Mais de 43 mil pessoas aguardam por um transplante de rim em todo o Brasil, sendo que quase mil pacientes na lista de espera são de Santa Catarina. Somente neste ano, o país já transplantou quase 4 mil rins. Uma das referências no procedimento é a Fundação Pró-Rim, localizada em Joinville e que, sozinha, realiza em média 100 transplantes do órgão por ano.
Entre os famosos que passaram pelo procedimento está Fausto Silva, o Faustão, que também já precisou passar por transplantes de fígado e coração. O caso do apresentador, que passou recentemente por um retransplante renal e um transplante de fígado, após dois outros transplantes, chamou atenção no país devido ao estado de saúde dele.
Médica da Pró-Rim, a doutora Stephanie Santana, especialista em nefrologia, conta que a lista de espera pelo transplante respeita a ordem de solicitação, mas também há outros critérios que podem passar um paciente “na frente” da fila.
— As coisas acontecem única e exclusivamente por uma por uma lista nacional em que a gente tem que respeitar critérios. Não tem como a gente passar ninguém na frente por ter dinheiro ou não ter. […] Quando tu falas que tem prioridade, quem já tem transplante, e não só de rim, pode ter outros transplantes, se a pessoa já transplantou outro órgão, ela também tem prioridade. Vamos ao caso do Faustão, primeiramente, ele tem um transplante cardíaco — cita a médica.
Entre os critérios de prioridade também está a falência de acesso ou falência vascular, que ocorre quando o paciente já fez muitas hemodiálises e não há mais acesso venoso para conectar o aparelho ao paciente, o que torna a necessidade de cirurgia urgente. Também são priorizados pacientes com menos de 18 anos.
Para realizar o procedimento é necessário, ainda, avaliar a compatibilidade do órgão recebido com o receptor. Para isso, o Sistema Nacional de Transplantes possui um banco de dados que já registra as informações dos pacientes e os encontra na lista de espera conforme as especificidades do órgão recebido. Entre os fatores da compatibilidade está, por exemplo, o tipo sanguíneo.
— Depois a gente vai ter a tipagem HLA, que é como se fosse o gene que a gente vai avaliar tanto do receptor como do doador. Quanto mais semelhantes forem os genes, menos chance eu vou ter de rejeição e mais chance desse transplante durar mais tempo, então seria o melhor prognóstico. Então a gente sempre vai priorizar, quando eu estou em lista de transplante, o receptor é ranqueado por isso — cita a médica.
A especialista também explica que, em muitos casos, há a necessidade de retransplante, como é o caso de Faustão. Isso porque após passar por um procedimento, há chances de rejeição. Além disso, em casos de sucesso, há um tempo de “vida útil” do novo órgão, que pode durar de 8 a 12 anos. Faustão, por exemplo, já passou por retransplante.
— O rim é um filtro. A partir do momento que o filtro para de funcionar, eu preciso de uma coisa que substitua. As maneiras de substituir isso para a pessoa poder sobreviver, hoje, nós temos três formas de realizar isso. É através da hemodiálise, que é feita no sangue, a diálise peritoneal, que é a máquina que é feita daí com líquido na barriga e nós temos o transplante renal, ou seja, ele não é cura, ele é uma forma de tratamento. Então, ele não vai durar para sempre — explica Stephanie.
O caso de Faustão
Faustão passou por um transplante de fígado na quarta-feira (6) combinado a um retransplante renal. Ele está internado desde o dia 21 de maio no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, devido a uma infecção bacteriana aguda com sepse.
Segundo médicos, o procedimento de retransplante renal era aguardado há um ano, e foi realizado na quinta-feira (7). O apresentador agora passa por um controle infeccioso e está em reabilitação clínica e nutricional para que o quadro de saúde se estabilize.
Em janeiro, Faustão precisou ser internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, também para tratar uma infecção. O apresentador já foi submetido a um transplante de coração, em agosto de 2023, e a outro de rim, em fevereiro de 2024.
No caso de Faustão, os órgãos transplantados (fígado e rim) vieram de um mesmo doador, o que pode aumentar as chances de compatibilidade. A Central de Transplantes de São Paulo acionou o hospital após a identificação de um doador compatível e a confirmação da viabilidade dos órgãos para o apresentador. Mais detalhes sobre o processo de transplante de Faustão não foram divulgados.
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Como são os tratamentos e transplantes em Joinville
Atualmente, os cerca de 100 transplantes realizados por ano em Joinville são feitos através da Pró-Rim no Hospital São José. Para desafogar leitos cirúrgicos e de hemodiálise, a ideia é construir uma nova unidade hospitalar na cidade, focada em tratamento renal.
A cidade recebe, hoje, pacientes vindos de todo o Brasil que realizam na maior cidade de Santa Catarina seus transplantes e tratamentos. Inclusive, foi em Joinville que aconteceu o primeiro transplante de rim do Estado, conforme Maycon Truppel Machado, presidente da Fundação Pró-Rim.
— Em 1978, em SC, foi feito o primeiro transplante renal através do nosso fundador, o doutor José Aluísio Vieira. Ele também fez a especialização dele em nefrologia, nos Estados Unidos, e quando veio para o Brasil, ele trouxe uma uma máquina de hemodiálise e com essa máquina também foi feita a primeira hemodiálise no início da década de 70 em Santa Catarina. Ele, trabalhando nos hospitais públicos de Joinville, viu a necessidade de criar uma fundação onde pudesse continuar atendendo os pacientes do SUS, mas com recursos adicionais, e para a gente poder dar um tratamento realmente digno e diferenciado para o paciente renal. E daí em 87 surgiu a Fundação Pró-Rim aqui em Joinville — conta ele. Desde então, mais de 2 mil transplantes ocorreram na cidade.
Agora, com o crescimento do atendimento e se tornando referência neste atendimento, a Fundação deseja construir um hospital para atender apenas pacientes renais.
O projeto já foi aprovado na Vigilância Sanitária, segundo Maycon. Para dar continuidade no processo, agora, é necessário captar recursos públicos para custear a obra de cerca de R$ 75 milhões.
— Estamos na fase de captação de recursos para iniciar essa obra. Então, nós tivemos já uma conversa com o Governo Federal, com o ministro da saúde. Existe uma promessa de envio de recursos. Também recebemos o governador Jorginho Mello na Pró-Rim há um mês, também houve uma promessa de recursos do Estado e a gente está nesse trabalho de buscar e captar recursos para esse hospital. Ele custa 75 milhões, que é um valor que não é muito alto considerando o potencial econômico e a importância de Joinville — cita Maycon.
Após a captação de recursos, a previsão é que o hospital fique pronto em dois anos. Segundo o presidente da Pró-Rim, com 93 leitos e cinco centros cirúrgicos, a unidade vai poder triplicar o número de transplantes realizados na cidade, passando para 300 por ano. Além de liberar leitos no Hospital São José para tratamento de outras patologias.
Fonte: NSC Total