Portugal tem a taxa mais alta de doentes renais crónicos em hemodiálise na Europa a situação pode dever-se sobretudo ao controlo insuficiente de fatores de risco como obesidade e hipertensão e à falta de prevenção primária.
Edgar Almeida, presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN), alertou no podcast À Conversa sobre Diálise para a elevada taxa de doentes renais crónicos em hemodiálise em Portugal, a mais alta da Europa. Segundo o especialista, “o envelhecimento da população pode explicar parte destes números, mas o principal problema está no controlo insuficiente de fatores de risco, como a obesidade e a hipertensão arterial, sobretudo nos cuidados de saúde primários. Temos muitos fatores de risco identificados, mas não estamos a agir de forma eficaz na prevenção primária”.
Edgar Almeida criticou ainda o facto de o último Plano Nacional de Saúde não mencionar a doença renal, que afeta cerca de um em cada 10 portugueses, afirmando que já foi manifestada “essa preocupação junto das entidades competentes”. A SPN está a colaborar com a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar para criar uma estratégia nacional de rastreio precoce da doença renal crónica.
O podcast, que comemora o 40.º aniversário da ANADIAL, pretende discutir a evolução da diálise em Portugal e convidar especialistas a debater temas relevantes para doentes, profissionais de saúde e público em geral. Edgar Almeida destacou que “apenas 2% das pessoas com doença renal identificada em análises têm o diagnóstico formal, ou seja, o médico não identifica a doença, mesmo com os dados disponíveis”, o que dificulta a intervenção precoce.
Defendeu também uma abordagem mais holística da diálise, incluindo cuidados de proximidade, cuidados paliativos e terapêutica domiciliária, e salientou que o transplante renal continua a ser uma solução para muitos doentes: “Grande parte das pessoas que iniciam diálise são idosas e, por isso, a transplantação nem sempre é uma opção, embora alguns pacientes mais velhos possam beneficiar se tiverem boas condições físicas”. Portugal é já um dos países europeus com maior taxa de recolha e transplante de órgãos, sendo a eficácia das equipas de transplantação bastante elevada.
Sobre os projetos futuros da SPN, afirmou que pretende reforçar a investigação científica, a formação de profissionais e a cooperação internacional, especialmente com países de língua portuguesa: “Podemos oferecer formação e incentivar a Nefrologia nos países de expressão portuguesa, o que seria muito importante”.
Fonte: 24 Notícias


