SBN-BA alerta para necessidade de incentivar tratamento domiciliar
Na Bahia, 9.841 pessoas realizam hemodiálise regularmente em clínicas e hospitais, enquanto apenas 215 fazem diálise peritoneal, segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab). Ainda de acordo com o órgão, 129 baianos estão internados aguardando uma vaga para realizar esse último procedimento.
A diferença expressiva revela um ponto sensível na rede de atenção à saúde renal: a falta de incentivo à modalidade domiciliar de tratamento, que poderia melhorar a qualidade de vida e reduzir custos do sistema de saúde.
A diálise peritoneal é um tratamento que permite ao paciente realizar o processo de filtragem do sangue em casa, com autonomia e acompanhamento remoto da equipe médica. O método utiliza o peritônio, membrana que reveste os órgãos do abdome, como filtro natural para remover impurezas e excesso de líquidos do organismo.
A técnica é segura, apresenta bons resultados clínicos e proporciona maior flexibilidade e conforto, já que elimina a necessidade de deslocamentos frequentes a clínicas especializadas. Mesmo assim, menos de 6% dos pacientes renais no Brasil utilizam essa modalidade, e a Bahia reflete essa mesma realidade.
Para a nefrologista Ana Flávia Moura, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia — Regional Bahia (SBN-BA), o principal desafio é transformar a diálise peritoneal em uma opção acessível e estruturada em todo o estado. “Temos uma modalidade segura, com bons resultados e que traz conforto ao paciente”, diz a médica. “No entanto, a falta de incentivos financeiros e técnicos não viabiliza o acesso a este modalidade de tratamento”, ressalva.
Ela destaca que o método gera economia para o sistema de saúde, mas requer capacitação das equipes e investimentos em estrutura e logística de insumos. “Na diálise peritoneal, todo o material é entregue na casa do paciente. Para isso, há uma logística que, se não houver o devido incentivo, fica inviável a sustentabilidade dessa modalidade”, observa Ana Flávia. “Mesmo com a o incentivo necessário, os custos financeiro e ambiental seriam menores que os gerados pela hemodiálise”, complementa.
“Temos exemplos de programas de diálise peritoneal de sucesso em alguns países, como o México. Porém, em todos eles, há incentivo do governo para o crescimento dessa terapia.”
Desafios para ampliar o acesso
Entre as principais barreiras para a expansão da diálise peritoneal, estão:
– Baixo incentivo financeiro às clínicas que ofertam a modalidade;
– Falta de programas estaduais de capacitação para profissionais de saúde;
– Infraestrutura limitada para acompanhamento e fornecimento de insumos;
– Pouca divulgação entre pacientes e profissionais da área sobre os benefícios do tratamento domiciliar.
Para especialistas, a ampliação dessa modalidade na Bahia poderia aliviar a sobrecarga dos serviços de hemodiálise e aproximar o cuidado da realidade de cada paciente.
A diálise peritoneal representa uma possibilidade concreta de autonomia e dignidade para quem convive com doença renal crônica. “A diálise peritoneal é uma ferramenta de autonomia e cuidado humanizado. Ampliar o acesso a esse tratamento é investir na qualidade de vida dos pacientes renais da Bahia”, conclui Ana Flávia.
Fonte: Correio 24 Horas


