Doença renal crônica: por que poucos pacientes fazem diálise peritoneal?

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Diálise peritoneal salva vidas, mas ainda é pouco acessível no Brasil (Nora Carol Photography/Getty Images)

Menos de 5% dos portadores de doença nos rins fazem esse tratamento, que é bem menos invasivo e mais prático que a hemodiálise

A doença renal crônica (DRC) é um problema de saúde pública que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. De acordo com a Sociedade Internacional de Nefrologia, são aproximadamente 850 milhões de pessoas vivendo com algum grau de doença renal, sendo que muitos só descobrem a condição em estágios avançados, quando a função do órgão já está gravemente comprometida.

No Brasil, estima-se que 1 em cada 10 brasileiros seja portador de DRC, sendo que cerca de 157 mil pessoas dependem de terapia renal substitutiva, conforme dados do Censo Brasileiro de Nefrologia de 2023.

Para esses pacientes, a diálise é um tratamento indispensável para manutenção da vida. A modalidade mais conhecida e difundida é a hemodiálise, realizada em centros clínicos, onde o paciente precisa comparecer ao menos três vezes por semana e permanecer conectado à máquina por cerca de quatro horas a cada sessão.

Apesar de eficaz, esse tratamento impacta significativamente a rotina do paciente, muitas vezes impossibilitando o trabalho, estudos, viagens e outras atividades cotidianas, além de causar efeitos colaterais como cansaço, fadiga e oscilações na pressão arterial durante a sessões.

No entanto, há também uma outra modalidade de tratamento que ainda é pouco difundida. A diálise peritoneal domiciliar é uma alternativa viável e eficiente, que oferece maior autonomia ao paciente.

Realizada no próprio domicílio, geralmente durante o sono, essa terapia permite que o paciente mantenha sua rotina, sem a necessidade de deslocamentos frequentes para hospitais e clínicas. O procedimento é menos invasivo, proporcionando qualidade de vida e permitindo maior liberdade para o convívio social e profissional.

Apesar dos benefícios apresentados, a diálise peritoneal ainda precisa de divulgação. Dados apontam que apenas 3,4% dos pacientes renais crônicos do país têm acesso a esse tratamento.

Isso se deve a diversos fatores, como a falta de informação sobre o procedimento e a baixa remuneração do tratamento por parte do Ministério da Saúde, que impacta na estruturação dos serviços de nefrologia, que ainda priorizam a hemodiálise.

Vale lembrar ainda, a dificuldade dos pacientes em acessar vagas para a hemodiálise juntos às clínicas credenciadas ao SUS, ocasionando ocupação de leitos hospitalares, situação esta que poderia ser sanada diante da maior oferta de diálise peritoneal domiciliar.

Diante desse cenário, a Federação Nacional das Associações de Pacientes Renais e Transplantados do Brasil (FENAPAR) lançou a campanha “Direito à Diálise Peritoneal Domiciliar”, com o objetivo de conscientizar a população e os profissionais de saúde sobre a importância dessa alternativa terapêutica.

A iniciativa busca garantir que todos os pacientes renais crônicos tenham acesso às melhores opções de tratamento, promovendo informação e incentivando a adoção de políticas públicas que ampliem a oferta dessa estratégia no Brasil.

A campanha reforça a necessidade de maior transparência e educação sobre a doença renal e seus tratamentos, além de mobilizar a sociedade para garantir que os pacientes possam escolher a terapia mais adequada à sua realidade.

O manifesto defende que todo paciente renal crônico deve ter o direito de conhecer e optar pela diálise peritoneal domiciliar, um tratamento seguro, eficaz e que oferece mais qualidade de vida.

A Fenapar convida todos a se engajarem nessa causa, divulgando informações e apoiando a luta por mais acessibilidade e equidade no tratamento da DRC. Para saber mais sobre a campanha, acesse o nosso site.

Maria de Lourdes da Silva Alves, presidente da Federação Nacional das Associações de Pacientes Renais e Transplantados do Brasil (FENAPAR)

Fonte: Veja Saúde