FALTAM MATERIAIS DE SAÚDE E PROFISSIONAIS PARA A DIÁLISE EM BELÉM E CIDADES VIZINHAS E SITUAÇÃO É GRAVE, ALERTA ABCDT

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Tratamento a 1.495 doentes renais crônicos pode ser suspenso devido à dificuldade de abastecimento de insumos nas clínicas conveniadas ao SUS.
Brasília, 06 de maio de 2020 – A Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) denuncia a grave falta de médicos, enfermeiros e equipamentos de segurança para atender os pacientes com Doença Renal Crônica em Belém do Pará e nas cidades vizinhas. Os proprietários das clínicas que prestam serviços ao Sistema Único de Saúde (SUS) reclamam ainda da escassez de técnicos e profissionais do administrativo, devido à alta contaminação da população com o coronavírus na capital. A Associação alerta para o risco de inviabilizar o tratamento da Terapia Renal Substitutiva (TRS), exigindo as condições de segurança aos profissionais que atendem os pacientes renais fora do ambiente hospitalar.
No estado do Pará, 1.495 pacientes renais crônicos de 144 municípios são atendidos por 19 clínicas de diálise conveniadas ao SUS. Até dezembro de 2019, 100 pacientes aguardavam novas vagas. Mesmo em caso de necessidade, os hospitais públicos e privados de Belém não poderiam receber doentes renais crônicos, pois já atendem com capacidade total – alguns exclusivamente suspeitos do Covid-19. “A situação aqui é dramática. Ontem recebi três ligações para fazer diálise de pacientes agudos, mas não pude atender por falta de profissionais”, conta Eduardo Daher, proprietário do Grupo Daher. Segundo ele, a solução encontrada para não cessar os serviços foi atender os pacientes em dias específicos da semana, com escalas extra de plantão: “Não sabemos como será amanhã”.
Outra grave questão é a falta de disponibilidade no mercado da substância heparina, insumo primordial para a realização da sessão de hemodiálise. De acordo com levantamento da ABCDT, a heparina apresentou variação de preço atípica: o frasco de 5 ml teria passado de R$ 7 para R$ 23, com o reajuste de mais de 200%. O quadro é agravado quando se usa como parâmetro a variação do dólar, levando-se em conta a disparada provocada pela pandemia. Além da heparina, as clínicas estão com dificuldade para encontrar materiais básicos de segurança pessoal, como máscaras cirúrgicas, luvas e álcool 70%. Tais insumos apresentam um aumento de preço alarmante desde a chegada do Covid-19. Na maioria dos estados, esse material é encontrado com escassez e preços abusivos, superando os 150% de aumento.
“Nefrologistas, pacientes e seus familiares estão angustiados com esta realidade que atinge todos os dias a realização de um tratamento com segurança”, afirma Yussif Ali Mere Júnior, presidente da ABCDT. Yussif reitera: “Aguardamos uma resposta imediata do poder público. Estamos falando de um possível colapso no setor dialítico, que garante a vida de mais de 130 mil brasileiros e brasileiras que dependem da hemodiálise para sobreviver”. Ele explica que a ABCDT já formalizou denúncia ao CADE e aos órgãos competentes sobre cobrança abusiva por parte de fabricantes e vendedores de materiais de extrema importância no tratamento de pacientes renais. “Nossa meta é uma só: criar condições para que as clínicas possam oferecer aos pacientes o tratamento da diálise”.
Atendimento a dialíticos em tempos do coronavírus
Entre as medidas que precisam ser adotadas nos casos de pacientes renais crônicos suspeitos ou positivos ao COVID-19, estão a aquisição de equipamentos de proteção individual, a criação de local próprio de isolamento para a COVID 19 nas unidades de diálise, a abolição do reuso de linhas e capilares nos casos de pacientes suspeitos e confirmados. Estão sendo consideradas a contratação emergencial de pessoal qualificado para atender esses pacientes, viabilizando a criação de turnos extras para realizar hemodiálise nos infectados, além do pagamento de hora extra para funcionários que poderão vir a cobrir o turno de outros funcionários afastados por contraírem a COVID 19.
ABCDT e SBN pleiteiam recurso emergencial junto ao MS
A ABCDT e a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) formalizaram em abril solicitação de aporte financeiro ao Ministério da Saúde para as clínicas de diálise que prestam serviços ao SUS tratarem pacientes renais crônicos que venham a ser contaminados com o COVID-19. O incentivo visa propiciar o adequado tratamento à população dialítica, já considerada de alto risco e constituída em grande parte por pacientes diabéticos e com outras comorbidades que precisam manter seu tratamento de forma crônica nas mais de 700 unidades de diálise espalhadas pelo país. Assegura ainda a qualidade dos profissionais de saúde que atuam nesses estabelecimentos, considerando o alto risco de contaminação.
É importante ressaltar que a complementação publicada na portaria nº 827/2020, que inclui o procedimento de hemodiálise em pacientes com suspeição ou confirmação de COVID-19 na Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais do Sistema Único de Saúde – SUS, não é suficiente para suprir a grave dificuldade financeira que as clínicas de diálise vêm enfrentando, pois, resolve somente uma das questões descritas acima, qual seja o aumento das despesas com o descarte de linhas e dialisadores.
Sobre a ABCDT
A Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) é uma entidade de classe que representa as clínicas de diálise de todo o país. Tem como principal objetivo zelar pelos direitos e interesses de seus associados, representando-os junto aos órgãos públicos, Ministério da Saúde, Senado Federal, Câmara Federal, Secretarias Estaduais e Municipais. Também representa as clínicas e defende seus interesses individuais e coletivos.