Atraso em pagamento põe pacientes de hemodiálise em risco

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Faz nove anos que o aposentado Djalma Doracy Sales, de 66, acompanha a filha nas sessões de hemodiálise em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Segundo ele, é quase uma década de muitas dificuldades em uma realidade que, desde o ano passado, se tornou um pesadelo constante. Com os pagamentos da Prefeitura de São Gonçalo sempre atrasados, o temor dos pacientes, seus parentes e até de donos de clínicas é que o tratamento seja prejudicado.
— A gente escuta pelos corredores que a situação está complicada. Meu medo é que tenham que reduzir o número de sessões. Minha filha depende dessas máquinas para viver — desabafa Djalma.
A moça faz o tratamento na Clínica Nefrológica, no bairro Camarão. Outras 199 pessoas passam pela filtragem do sangue, três vezes por semana, no mesmo lugar. Outras 200 o fazem na filial de Alcântara. Além desses 400 pacientes, outros quase 200 são submetidos ao procedimento em uma unidade pertencente à outra administração, no Mutondo. O que Djalma ouve não é boato.
— Todos estão com os repasses atrasados. Na segunda quinzena de dezembro, recebemos os valores referentes a setembro e outubro. A clínica está funcionando porque pegamos um empréstimo de R$ 1 milhão — explica o médico Renato Torres Gonçalves, um dos sócios da Clinica Nefrológica: — Essas pessoas dependem disso. Cada uma custa R$ 2.300 por mês. É um processo de alta complexidade e um tratamento caro.
O mecanismo de pagamento é simples: a clínica recebe o paciente encaminhado pela regulação estadual. O Ministério da Saúde é informado e manda o dinheiro do tratamento pela prefeitura, que contrata as unidades responsáveis pela hemodiálise. No Portal da Transparência do governo federal, os repasses para o município de São Gonçalo aparecem em dia.
Vans usadas no transporte são precárias
Chova ou faça sol, há 12 anos, a aposentada Regina Célia Antunes, de 55 anos, vai três vezes por semana à Clínica Nefrológica. Apesar dos problemas, ela festeja o que chama de “amor sem igual”.
— É isso. Eles nos amam. Porque a situação aqui está difícil. Mesmo com salários atrasados, sempre me trataram bem. Os funcionários mostram o que é ter responsabilidade pela vida do outro. Respeito que falta quando a gente passa a depender só da prefeitura — diz, reclamando do transporte para os pacientes: — Aquela van não é gratuita. Era para ser melhor. Já fiquei várias vezes enguiçada na rua, passei horas esperando a condução que não chegava…
Pessoas mais carentes têm à disposição vans que as buscam em casa e as devolvem, após a hemodiálise. Elas, no entanto, reclamam dos carros e das rotas, que levam até duas horas para chegar aos destinos.
Calamidade pode piorar situação
De acordo com o nefrologista Renato Torres Gonçalves, embora os repasses do Ministério da Saúde para a Prefeitura de São Gonçalo sejam feitos em dia, o município segura o dinheiro e paga as clínicas com atraso.
— O que nos revolta é que essa verba é extra orçamento. É um a mais que a prefeitura recebe e que deveria usar somente para custear esse tratamento. Mas não é o que acontece — queixa-se o médico.
Desde 2015, os pagamentos vêm atrasando. A situação piorou no fim de 2016. Agora, com o decreto de calamidade nas contas da Prefeitura de São Gonçalo e uma série de arrestos para o pagamento do funcionalismo, a situação pode piorar, na avaliação dos donos das clínicas.
Questionada sobre os problemas na quitação das dívidas e sobre as reclamações dos pacientes em relação ao transporte, a Prefeitura de São Gonçalo se limitou a responder que a Secretaria de Saúde “aguarda a abertura do orçamento municipal de 2017 para realizar o pagamento, que deve acontecer ainda este mês”.
Fonte: Extra – http://extra.globo.com – 11/01/2016