Pacientes compartilham sessões de hemodiálise em hospitais públicos

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Profissionais que atuam na hemodiálise do Hospital Regional de Sobradinho, no Distrito Federal.


Pacientes internados em hospitais públicos do Distrito Federal têm “dividido” sessões de hemodiálise em uma tentativa das equipes médicas de garantir que – mesmo que parcialmente – todos possam receber o tratamento. O problema estaria relacionado ao baixo número de profissionais especializados no serviço e a grande quantidade de máquinas quebradas. Especialistas alertam que a redução do tempo da terapia renal aumenta as chances de insuficiência cardíaca e edema pulmonar.
(O Site publica ao longo desta semana uma série de reportagens sobre o tema . Pacientes, servidores da área e associações contam como é o dia a dia de quem depende do tratamento oferecido pela rede pública.)
O paciente tem direito a fazer o tratamento dele, de quatro horas completo, tirar todas as toxinas do corpo dele, e sair de lá bonzinho. [Fazem isso porque] Antes ficar ele subdialisado a ficar sem diálise, porque sem diálise ele morre. Mas o alvo é diálise completa e efetiva” Karime Veiga,
coordenadora de Nefrologia da rede pública
A coordenadora de Nefrologia da Secretaria de Saúde, Karime Veiga, afirma que ocorrências do tipo são exceção. “Tem alguns lugares em que estava acontecendo isso porque às vezes tinha alguma máquina com defeito, a reserva estava sendo utilizada e não tinha consertado a outra, e às vezes precisava dividir uma máquina entre dois pacientes. O termo que a gente usa é subdiálise, estavam subdialisando, não estavam dialisando o tempo deles todo. Mas isso foi pontual.”
Profissionais e associações de doentes renais denunciam outro cenário. Preferindo não se identificar por medo de retaliação, uma servidora afirma que em março as “dobradinhas” ficaram mais corriqueiras no Hospital Regional de Santa Maria. Uma das quatro enfermeiras estava de férias, e a escala não foi reprogramada. A unidade atende apenas pacientes já internados ou na UTI. São 11 máquinas de hemodiálise, que deveriam funcionar ininterruptamente.
“Após pressão dos sindicatos, a chefia fez remanejamento nos setores e colocou novatos lá para treinarem. Precisa-se de mais enfermeiros e mais técnicos de enfermagem nas UTIs. O problema mesmo é contratação de pessoal”, disse. “É lamentável ver esse tipo de situação. A gente não estudou durante cinco anos para ver morte de paciente. O que a gente quer é restituir a vida do paciente. É dolorido para o servidor. A gente fica com as mãos amarradas.”
A mulher conta ter visto parte dos internados com o quadro agravado por causa da situação, além de mortes. Também preferindo não ser identificado, um colega diz haver ao menos um compartilhamento de máquinas por semana. “Você acaba tendo que sortear entre os pacientes, porque na UTI todos precisam. Está uma situação bem frequente. Acontece sempre.”
De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia, o tempo médio de uma sessão de hemodiálise é de quatro horas. Doentes crônicos fazem a terapia três vezes por semana. O procedimento substitui parte das funções renais: o sangue é filtrado (retirada de toxinas e água), a pressão arterial fica controlada e o corpo mantém em equilíbrio os níveis de sódio, potássio, ureia e creatinina.
Famílias contam que a situação é semelhante na regional de Sobradinho. A ex-gerente de loja Alcione Bragança, de 53 anos, afirma conhecer essa realidade. Ela faz hemodiálise há 20 anos, desde que descobriu ter insuficiência renal depois de um check-up. O início do tratamento ocorreu em hospitais da rede pública, onde chegou a ser submetida a “dobradinhas”.
“Você tem dois rins que funcionam 24 horas por dia nos sete dias da semana. Nós só temos 12 horas por semana de funcionamento – que é nosso tempo de máquina. Imagina você só tendo a expectativa de 12 horas por semana e ainda perder metade, por ter que dividir esse tempo com alguém? Que vida você vai ter? É pouco, não é nada”, afirma.
O problema já havia sido denunciado à Câmara Legislativa em outubro do ano passado. O presidente regional da Sociedade Brasileira de Nefrologia, Marcelo Pereira Ledônio, afirmou na ocasião que desde 2013 alertava o secretário de Saúde para a necessidade de intervenção rápida no atendimento a pacientes renais, com risco de as equipes médicas terem de voltar a subdialisar pacientes. “É o que está acontecendo novamente”.
Fonte: Jornal Floripa – 07/06/2016