Marco Gomes, utente do Serviço de Nefrologia da Unidade Local de Saúde (ULS) do Médio Tejo, abre o livro do que foi a sua vida, num poderoso testemunho de uma longa e árdua caminhada de seis anos, até ao transplante de um rim. É uma história de perda, determinação e força, muito amor e fé inabalável na sua recuperação. Por coincidência da vida, os caminhos da fé eram-lhe familiares uma vez que a sua empresa de atividades ao ar livre, organiza, entre outras, várias caminhadas a Fátima e a Santiago de Compostela. A história é contada pelo gabinete de comunicação da ULS Médio Tejo.
Em 2018, as análises clínicas de rotina de Marco Gomes, residente em Fátima, no concelho de Ourém, revelaram um indício alarmante: os seus rins estavam a falhar. O seu mundo não ruiu, porque a sua família enfrentava um desafio muito mais duro: a sua mulher enfrentava um cancro particularmente agressivo, descoberto durante a gravidez de Santiago, o terceiro filho do casal. Por “milagre”, Santiago (como o dos caminhos de fé) nasceu saudável, apesar de a mãe ter tido de se submeter a violentas sessões de quimioterapia com o bebé ainda a crescer no ventre.
O ano de 2021 foi marcado por perdas irreparáveis para Marco Gomes: lá fora, o mundo debatia-se com uma assustadora e assassina vaga de Covid-19 e, dentro de casa, a sua mulher sucumbia à doença oncológica, partindo para a sua jornada final.
A diálise peritoneal passou a fazer parte da vida de Marco Gomes desde o início até ao fim deste caminho, em que também teve de ser pai e mãe. Marco tinha de ficar “ligado à máquina” durante o mínimo de oito horas, horário rígido que cumpria durante a noite, para poder assumir as suas responsabilidades pela educação e crescimento dos filhos. Foi, também, no final desse mesmo ano, que entrou para a lista ativa de transplantes a nível nacional.
Os dois anos que se seguiram não foram “um passeio pelo parque”, apesar da atitude positiva de Marco Gomes: diversas infeções no acesso da diálise obrigaram-no a internamentos hospitalares. Era onde estava, em novembro de 2023, quando a equipa multidisciplinar do Serviço de Nefrologia da ULS Médio Tejo recebeu a notícia de que, em Coimbra, havia um rim à sua espera para transplante. Apesar de gravemente debilitado, os cirurgiões decidiram avançar com a tentativa. Mas este “rim morreu na praia” quando já estava no Bloco Operatório e sofreu um derrame pulmonar.
Manteve o espírito positivo – disse a si mesmo que aquele simplesmente não era o rim que lhe estava destinado. Dois meses depois, no dia 28 de janeiro, o telefone tocou em sua casa, ao início da manhã: era novamente do Hospital de Coimbra. Ao final desse dia já estaria transplantado do rim que há tanto tempo aguardava.
“É uma sensação de liberdade inexplicável. Agora, sinto-me uma pessoa ‘normal’”, diz. A jornada de Marco Gomes, hoje com 46 anos, é um exemplo inspirador para todos nós, mas sobretudo para quem aguarda a qualquer momento para ser transplantado.
“Sempre assumi que estava a escalar uma montanha muito íngreme. Quem é caminhante sabe que, quando se chega ao topo dessa montanha agreste, está à nossa espera a vista mais bonita do mundo. Acreditem, é mesmo assim!”, diz, Marco Gomes, em jeito de conselho, a todos os que estão na mesma jornada que ele está a terminar.
Por ocasião do Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação, que se assinala a 20 de julho, a Unidade Local de Saúde (ULS) do Médio Tejo deu conta de alguns números que envolvem o serviço prestado pela Equipa de Colheita de Órgãos e Tecidos do Serviço de Medicina Intensiva, tendo destacado que, em 15 anos, colheu 227 órgãos para transplantação, provenientes de 97 dadores.
Fonte: Mediotejo.net