Paciente em hemodiálise cruza ponte interditada a pé para pegar ambulância

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Imagem captada por drone mostra área afetada pelas enchentes em Lajeado (RS) Imagem: Jeff Botega - 2.mai.24/Agência RBS via Reuters

A calçadista Ana Paula Kalkamm mora em Lajeado (RS) e sua rotina foi totalmente alterada por causa das cheias. Ela faz tratamento de hemodiálise e, para chegar a uma ambulância, teve que atravessar a pé uma ponte que havia sido interditada.

O que aconteceu

“Atravessei a ponte a pé e a ambulância esperou do outro lado para me levar até o hospital para fazer a hemodiálise”, contou Ana Paula. A situação ocorreu no domingo (5), quando a ponte foi liberada para pedestres — mas continuava fechada para veículos. “Depois do procedimento, eu tive que esperar para voltar”, afirmou a paciente. “Eles estavam liberando só de duas em duas horas para passar na ponte.”

Ela relatou que outros pacientes tiveram que ser transferidos de helicóptero e até mudar temporariamente de cidade para conseguir fazer o tratamento. Especialistas ouvidos pelo UOL disseram que um dos efeitos colaterais da hemodiálise é a fadiga — por isso, a sobrecarga de esforço é contraindicada.

Estradas e pontes interditadas e vias alagadas dificultam o transporte de pacientes e de medicamentos no estado. A Secretaria Estadual da Saúde está priorizando casos mais graves para transferências. Grávidas também fazem parte do grupo prioritário para resgate.

Em Lajeado, que foi severamente afetada pela cheia do rio Taquari desde a semana passada, também falta energia elétrica e internet. “A maioria dos municípios da região só tem acesso aéreo”, disse Rafaela Fagundes, da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde em Lajeado. “Estamos buscando informações junto aos municípios, mas a comunicação está muito difícil”. Na cidade, até o momento, 5 pessoas já morreram.

“Teve paciente da clínica que veio de helicóptero, porque Arroio do Meio, Encantado, esses lugares que caíram as pontes, eles tiveram que vir de helicóptero. Tem uns que estão na casa de técnicos da clínica mesmo, e outros estão em hotéis”.
– Ana Paula Kalkamm, paciente em hemodiálise

“Nossos fornecedores não estão conseguindo trazer nossos insumos. E quando tem os insumos, falta luz e não tem como preservar os aparelhos. Me preocupa isso, mas além disso, me preocupa que muitos pacientes não conseguiram chegar aqui”.
– Nara Pimentel, médica nefrologista de Lajeado

Falta de Insumos

Pelo menos 12 clínicas no estado podem ficar sem insumos para o tratamento de hemodiálise a partir desta quarta (8). O alerta é da ABCDT (Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante).

O estado tem 7 mil pacientes em hemodiálise — do total, 85% fazem tratamento no SUS. A secretaria não soube informar quantas pessoas precisam de ajuda — e explicou que os sites e sistemas da rede estão oscilando. Só na rede da ABCDT são 46 clínicas públicas e privadas afetadas pelas enchentes em 29 cidades gaúchas.

Pacientes são transferidos de helicóptero para municípios que apresentem melhores condições de atendimento. No fim de semana, o governo estadual encaminhou sete pacientes de Candelária para Santa Cruz do Sul. Na quinta passada (2), 23 pacientes de Caçapava do Sul e sete de Encruzilhada do Sul, que fariam hemodiálise em Cachoeira do Sul, foram levados para Pelotas. O acesso rodoviário a Cachoeira estava bloqueado.

Em Porto Alegre, a preocupação também é faltar água. Fabrísia Coelho, diretora da associação, informou ao UOL que há racionamento nas unidades. “Telefone e internet, sem previsão. Combustível tá difícil na cidade. Água para beber foi difícil de achar hoje”, disse.

“Pacientes estão chegando de helicóptero e ficam temporariamente alojados onde conseguem ficar. É uma situação realmente muito preocupante porque a dialise é o que garante a vida do paciente renal crônico. Ele não pode deixar de fazer. Estamos alertando as autoridades, mandamos ofício no sábado para o governo do Estado e buscando a ajuda de parlamentares”.
– Leonardo Barberes, vice-presidente da ABCDT

Chegada de insumos por transporte aéreo

Na segunda (6), aeronaves decolaram de Canoas com insumos em direção a cidades afetadas. Caxias do Sul, Lajeado, São Jerônimo e Santa Cruz do Sul receberam medicamentos para diversos tipos de tratamento.

Cilindros de oxigênio também foram enviados ao interior. A FAB (Força Aérea do Brasil) e a Marinha enviaram 1.500 kg para a região de São Jerônimo — a cidade já estava com o estoque esvaziado.

Além das pessoas que fazem hemodiálise e grávidas, pacientes oncológicos também são orientados a buscar ajuda urgente em caso de necessidade. A orientação é da Secretaria Estadual da Saúde.

O que é Hemodiálise

O tratamento filtra e limpa o sangue. A medida é necessária quando os rins não conseguem mais exercer esta função. É como se fosse um rim artificial.

Como funciona o tratamento? A hemodiálise é realizada em um centro de diálise, três vezes por semana. A sessão costuma durar algumas horas.

Fonte: Uol