NO MÊS DAS CRIANÇAS FICA O ALERTA: CUIDE DA SAÚDE RENAL DESDE CEDO

0
103

Confira dicas para prevenir ou tratar precocemente a doença nesta faixa etária. Rins são responsáveis por filtrar e retirar toxinas do sangue.

A pressão alta na infância pode ser um sinal de alerta para problema nos rins, sendo normalmente diagnosticada em exame clínico no pediatra com aferição da pressão arterial. Quando há alteração, a criança é encaminhada ao nefrologista pediátrico para investigação, visto que 80% dos casos de hipertensão arterial na faixa etária pediátrica pode estar relacionada com problema renal. Inchaços nas mãos e pés, cansaço, alteração na quantidade e cor de urina, sangue na urina, febre ou calafrios com dor na bexiga, além de ardência ao urinar indicam a necessidade de ir ao médico.

Heitor Moreira Lima, de dois anos, dialisa desde os 30 dias de vida e aguarda na fila por um transplante. Com 15 semanas de gestação, sua mãe, Roberta, recebeu o diagnóstico de uma obstrução na uretra (válvula de uretra posterior) que impedia o desenvolvimento do órgão, causando a doença renal crônica. Heitor começou fazendo a diálise peritoneal, que permitia fazer o tratamento em casa e manter uma rotina próxima de uma criança normal. No entanto, há um mês, depois de uma cirurgia na bexiga, precisou ir para a hemodiálise temporariamente, adotando uma rotina um pouco mais desgastante.

“Apesar de fazer a hemodiálise três vezes por semana, o Heitor é uma criança normal, brincalhona e muito feliz! Entende que esse tratamento é necessário”, conta Roberta. A mãe do pequeno mineiro sugere às famílias que enxerguem seus filhos além da doença. “Ali existe um ser humano especial que merece todo amor do mundo, um guerreiro forte e valente! Não esperem o transplante para começar a viver, mas que curtam o hoje, o agora. Vejam sempre o lado positivo, reflitam sobre a importância da vida, da saúde, da solidariedade! A doação é um ato de amor, empatia e pode transformar a vida de quem recebe e de toda uma família”.

A doença renal crônica é rara em crianças e normalmente está relacionada à má formação na gestação ou a doenças hereditárias. A alimentação é fundamental: os pequenos devem beber muito líquido, diminuir sal, açúcar e gorduras e ingerirem mais frutas, legumes, carne branca. A Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) ressalta que o acompanhamento regular com o pediatra e o encaminhamento ao especialista diante de sinal de doença renal para o tratamento precoce e correto podem preservar a função renal.

O presidente da ABCDT, Marcos Alexandre Vieira, reforça que medidas preventivas fazem a diferença no desenvolvimento das crianças, pois o bom funcionamento dos rins é imprescindível para garantir a vida saudável. “Na vida adulta, muitas pessoas se tornarão diabéticas ou perderão a função renal devido à hipertensão arterial não controlada. Atitudes saudáveis desde a infância podem impedir o aumento da incidência de diabéticos, hipertensos e doentes renais no futuro”, sinaliza Vieira.

Diálise peritoneal

Outro alerta da Associação é com relação à grave crise da diálise peritoneal, método dialítico indicado para crianças em qualquer idade, especialmente em neonatologia, com baixo peso ou em pós-operatório cardíaco. Além da efetividade e da facilidade técnica, não exige equipamento sofisticado ou mesmo acesso vascular no paciente. Esta modalidade permite que o paciente, sobretudo as crianças, possam realizar o tratamento em sua residência, sendo uma alternativa imprescindível em países de dimensão continental como o Brasil, em que apenas 7% dos municípios possuem clínicas de diálise.

“Com essa modalidade, as crianças podem ir à escola, brincar, fazer atividades físicas e conviver com outras crianças”, explica Maria Goretti Moreira Guimarães Penido, diretora do Departamento de Nefrologia Pediátrica da SBN. Com reajuste de 6% nos últimos 15 anos, a diálise peritoneal está sendo inviabilizada no país. A correção da tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) para esta modalidade é essencial, além do custo do frete para viabilizar o atendimento, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, que já se encontram em desassistência.

“O transplante é o mais indicado para crianças que perderam as funções de seus rins, mas não é uma terapia tão simples, de se conseguir, pois, depende da doação de um familiar ou de algum falecido com perfil adequado”, reitera Maria Goretti. A ABCDT, por sua vez, reforça a campanha “a diálise não pode parar e a criança também não!”. Priorizar o transplante renal a uma criança é olhar para o futuro dela e vê-lo. Por isso, toda a sociedade deve lutar pelo transplante de crianças e adolescentes”, completa o presidente Marcos Alexandre Vieira.

Confira dicas para cuidar da saúde renal desde a infância:

  • Receber acompanhamento de um médico pediatra;
  • Manter uma alimentação balanceada e sem exageros;
  • Manter-se sempre hidratado, consumindo bastante água;
  • Praticar atividade física com frequência;
  • Não recorrer a automedicação;
  • Checar as taxas de glicemia no sangue;
  • Estar atento ao diabetes mellitus, caso você o tenha;
  • Verificar a pressão arterial;
  • Não usar anti-inflamatórios.

Retrato da diálise no Brasil

O país soma hoje 144 mil pacientes em tratamento renal crônico, sendo 85% com a terapia financiada através do SUS. No Brasil, 820 estabelecimentos prestam o serviço de diálise, sendo 710 unidades clínicas privadas. Com o crescente aumento de pacientes renais e com as clínicas em situação de insolvência e sem capacidade de expansão, torna-se crítica a garantia da continuidade de atendimento aos renais crônicos, bem como o acesso da população às alternativas de tratamento, resultando em filas de espera e ocupação de leitos hospitalares para realização de diálise.

O último reajuste do Ministério da Saúde aconteceu em 2017, quando o reembolso da sessão de hemodiálise passou de R$ 179,03 para R$ 194,20, com aumento de 8,47%. Porém, este valor, que à época já era insuficiente e muito abaixo da inflação, hoje é insustentável, obrigando as clínicas a arcar com a diferença de 46% em cada sessão. Em 2016, a própria equipe técnica do Ministério da Saúde já havia calculado o custo da sessão da diálise em R$ 219. A partir de cálculos de atualização dos custos, o valor mínimo que está sendo defendido junto ao MS é de R$ 285,45.

Sobre a ABCDT

A Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) é uma entidade de classe que representa as clínicas de diálise de todo o país. Tem como principal objetivo zelar pelos direitos e interesses de seus associados, representando-os junto aos órgãos públicos, Ministério da Saúde, Senado Federal, Câmara Federal, Secretarias Estaduais e Municipais. Também representa as clínicas e defende seus interesses individuais e coletivos.