ESPECIALISTAS DISCUTEM OS EFEITOS DA PANDEMIA NA DIÁLISE EM LIVE DA ABCDT

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Aumento desproporcional dos custos somado à falta de reajuste da tabela do SUS potencializa risco de fechamentos de clínicas em todo o país.
Na noite desta quarta-feira (28), o cenário dos impactos do agravamento da pandemia do coronavírus na diálise foi abordado em live com especialistas das principais entidades de nefrologia e diálise do país. Realizado pela Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) com apoio da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), o evento contou com a participação dos diretores das duas instituições, além do deputado federal Pedro Westphalen e do repórter Ricardo Régener, da BBC News.
“O trabalho de melhoria do panorama de diálise é feito, atualmente, por diversas mãos. Estamos juntos com o mesmo objetivo, de mudar a situação atual do setor no Brasil”, ressaltou o médico nefrologista Marcos Vieira, presidente da ABCDT. Segundo ele, a falta de reajuste do tratamento da Terapia Renal Substitutiva (TRS), o problema logístico da diálise peritoneal de entrega nas casas dos pacientes e a falta de incentivo para as clínicas são problemas críticos, que devem ser solucionados com urgência.
“Precisamos buscar a sustentabilidade da cadeia da diálise. O profissional de saúde realmente ficou em situação de insegurança plena. A bola de neve engloba ainda o aumento do ICMS, que ameaça o tratamento dos doentes renais. Isso afeta também diretamente os pacientes com covid-19. Precisamos pensar mais nos pacientes, para que tenham qualidade de vida”, acrescentou. Atualmente, as clínicas de diálise estão sendo impactadas pela nova carga tributária, que ultrapassa os 21,95% no custo de medicamentos e insumos fundamentais para o tratamento da diálise.
Agravamento com a Covid-19
De acordo com o deputado federal Pedro Westphalen, o parlamento tem função importante para que políticas públicas sejam estabelecidas: “É muito importante conversarmos exaustivamente e ter as entidades representativas como fonte de abastecimento constante das demandas e informações atualizadas. A pandemia veio para piorar o sistema de hemodiálise e diálise no Brasil. E, diante disso, precisamos estudar uma nova forma de remuneração desses tratamentos. Afinal, apesar de serem privadas, a grande maioria das clínicas atende os pacientes do SUS”.
A possibilidade de fechamento de clínicas de diálise foi comentada pelo deputado Pedro Westphalen. “Os nefrologistas estão desesperados e não têm como suportar. O aumento abusivo de preços de EPIs chega a ser criminoso. Esse sistema tem que ser atualizado. As diálises precisam de atenção especial e os pacientes precisam de atendimento com qualidade. Se não fosse o trabalho das entidades, não teríamos chegado até aqui”, complementou o parlamentar. Ao citar a vulnerabilidade dos pacientes com a Doença Renal Crônica (DRC), o deputado defendeu que esse grupo deve ser considerado preferencial no programa de vacinação contra a covid-19.
Defasagem do setor
Osvaldo Merege, presidente da SBN, destacou que atualmente há quase 150 mil pacientes renais crônicos em diálise e a covid-19 é perigosa para este grupo. “Hoje, se as 150 mil pessoas pegassem o vírus, cerca de 40 mil morreriam. Esses pacientes correm mais risco do que uma pessoa idosa de 80 anos. Na clínica que trabalho a mortalidade de quem pegou covid-19 foi de 30%”, disse. Ele também mencionou a inflação dos insumos médicos como problema grave. “O preço do anticoagulante, por exemplo, dobrou. A situação é desesperadora, o setor pode entrar em colapso. Se as clínicas fecharem, para onde vão esses pacientes?”, questionou Merege.
Ao conversar com gestores de clínicas de diversas regiões do país, Ricardo Régener, repórter da BBC News que recentemente publicou reportagem especial sobre as deficiências do setor, alegou que a situação no interior é ainda mais delicada do que nos centros urbanos. “Fiquei alarmado com a pesquisa que fiz: das 72 clínicas que responderam, pelo menos 49 enfrentam grandes dificuldades financeiras, com a possibilidade de reduzir o quadro e de fechar nos próximos seis meses. Os gestores estão desesperados com essa situação.” Dados da SBN apontam que apenas 7% dos municípios têm clínicas que oferecem o tratamento da hemodiálise.