Pacientes com problemas renais crônicos fazem parte do grupo de risco e não podem ficar em casa, em isolamento social, por causa do tratamento.
Semanalmente, pacientes que sofrem disfunções renais precisam sair de casa para realizar o tratamento de hemodiálise, em Joinville. A situação, por si só, já é difícil e os torna parte do grupo de risco para inúmeras doenças. Entretanto, em meio à pandemia do novo coronavírus, a situação se torna ainda mais delicada.
São pelo menos quatro horas, durantes três dias da semana, que esses pacientes permanecem nas unidades especializadas para esperar a filtragem de todo o sangue por meio de uma máquina, trabalho que deveria ser feito naturalmente pelos rins. O risco de agravamento em uma possível contaminação por Covid-19 se torna maior em pacientes com doenças renais crônicas, os quais, por sua vez, não têm a alternativa de permanecer em casa em isolamento social.
A médica nefrologista Marina Abritta Hanauer explica que isso acontece porque esses pacientes estão em um estado de inflamação e já possuem a imunidade – ou as principais defesas do corpo – mais baixa do que o normal. São os pacientes imunossuprimidos.
– Tudo nesses pacientes vai ser exacerbado. Os pacientes da diálise não são tão imunossuprimidos quanto os transplantados, mas eles também têm risco dessas doenças, como problemas cardiovasculares, infarto, AVC (Acidente Vascular Cerebral) e as doenças infectocontagiosas, como o coronavírus – acrescenta.
Carlos Elioterio tem 54 anos e é um dos pacientes que frequentam a Fundação Pró-Rim, em Joinville, todas as semanas para o tratamento.
-Faço parte do grupo de risco, assim como os outros que estão nessa batalha pela vida. Peço por mim e por estas pessoas: fique em casa – apela o paciente.
Carlos sai de Itapoá, onde mora, para fazer hemodiálise em Joinville três vezes por semana. Com a pandemia, novas medidas de segurança também foram adotadas neste período. Não apenas pacientes como o Carlos, mas todas as pessoas que precisam acessar à fundação, incluindo profissionais e visitantes, passam por uma triagem para verificar se há sinais gripais. As medidas de segurança foram adotadas na Fundação Pró-Rim assim como em todas as unidades de Santa Catarina que realizam este tipo de procedimento após Portaria publicada pelo Ministério da Saúde e também normas técnicas divulgas pela Anvisa.
Deslocamento de pacientes preocupa em SC
A estimativa é que, em todo o estado de Santa Catarina, 3 mil pacientes necessitam de hemodiálise. Os dados mais atualizados são de 2017, conforme a Apar (Associação dos Pacientes Renais de Santa Catarina), quando SC tinha 2,7 mil pacientes, com projeção de aumento de cerca de 10% ao ano.
Uma das maiores preocupações durante a pandemia também está relacionada ao deslocamento dos pacientes. Na maior parte dos casos, eles vão às unidades por meio de fretamento disponibilizado pelas prefeituras do município correspondente. Entretanto, os veículos costumam transportar diversos pacientes.
Conforme o presidente da Apar, Humberto Floriano Mendes, a associação tem mantido contato com as prefeituras e dado orientações aos motoristas responsáveis pelos transportes para que menos pessoas sejam deslocadas por viagem.
– Se for em carro pequeno, a orientação é para que sejam transportados no máximo dois pacientes, em vez de quatro. Em vans maiores, é pedido para que deixem os espaços entre os bancos. Esse é o grande problema, e a aglomeração dos locais. As unidades de tratamento também estão tomando medidas conforme as orientações técnicas estabelecidas – ressalta.
Unidades se adaptam à nova realidade
O médico e presidente da Pró-Rim, Marcos Alexandre Vieira, orienta que os pacientes só saiam de casa para fazer o tratamento. Na fundação, as placas pelos corredores lembram a principal forma de prevenção. Assim que qualquer pessoa entra no prédio devem lavar as mãos ou higienizá-las com o álcool em gel. Caso alguém apresente sintomas com critérios de internação como falta de ar e febre alta é direcionado para o atendimento no local de referência do município como UPA (Unidade de Pronto Atendimento) ou emergência hospitalar.
Atualmente 831 pessoas fazem tratamento na Fundação Pró-rim e a recomendação do Ministério da Saúde é que todas essas pessoas intensifiquem os cuidados. A instituição orienta que os pacientes só devem ser acompanhados em situações extremamente necessárias e não devem apresentar sintomas de gripe ou resfriado. Durante as sessões de hemodiálise ou consultas médicas, os acompanhantes deverão aguardar o término do atendimento em local aberto.
Com relação à higienização dos equipamentos utilizados durante o tratamento, o descarte é feito apenas em pacientes que apresentam suspeita de coronavírus.
– Se o paciente apresenta algum caso sugestivo de gripe, ele vai receber atendimento separadamente e com um profissional só para ele. O filtro da diálise pode ser usado até 20 vezes, mas, neste caso, é usado um filtro diferente, de uso único – explica Marina.
Além disso, a fundação tem recebido doações durante os dois últimos meses que incluem equipamentos de proteção, materiais de higiene e limpeza, alimentos, entre outros itens. Conforme o presidente da Pró-rim, as ações ajudam a manter os atendimentos na fundação que é filantrópica.
– Várias ações estão sendo realizadas de diferentes formas, porque os custos de tratamento aumentaram neste período – pontua.
Fonte: NSC Total – https://www.nsctotal.com.br/noticias/coronavirus-em-sc-como-tem-sido-o-cuidado-com-pacientes-em-hemodialise – 27/04/2020