Depois dos Estados Unidos, o Brasil é o país que mais faz transplante de rim. São mais de 5 mil por ano.
Na edição do último sábado (1º), o Jornal Nacional apresentou a situação dramática de um paciente renal que foi surpreendido pela tempestade, em São Paulo, quando estava a caminho de receber um rim para transplante. Muita gente se viu sensibilizada com a tentativa de resgate. A situação dele é a de outros 30 mil brasileiros.
Um telefonema na sexta-feira parecia que ia mudar tudo. “Um órgão que estava lá esperando a gente para fazer o transplante”, relembra Dalmir Batista de Souza.
Há três anos na fila por um rim, Dalmir saiu de São José dos Campos, no interior de São Paulo para a capital, na madrugada de sábado. Ficou preso no trânsito por causa do temporal.“Eu peguei e falei: ‘meu filho, liga pra polícia. Pra eles me pegarem aqui de moto’”, conta.
De moto não. A polícia resgatou Dalmir de helicóptero, que pousou no meio da Marginal Tietê: “Abriu espaço e, dali a pouco, já desceu o helicóptero e, em menos de 5 minutos, nós chegamos no hospital”.
Mas não era o dia dele. Exames revelaram que outros candidatos tinham compatibilidade maior com o doador. Dalmir voltou para casa e para hemodiálise, três vezes por semana. “A vida da pessoa que faz hemodiálise, ela para”, afirma Dalmir.
Depois dos Estados Unidos, o Brasil é o país que mais faz transplante de rim. São mais de 5 mil por ano. No geral, considerando também outros órgãos, o número de transplantes tem crescido, mas a necessidade ainda é muito maior do que a oferta. São mais de 30 mil pessoas na fila de espera.
Em 2010, eram menos de 10 doadores por milhão de pessoas. No ano passado, foram 16. A Associação Brasileira de Transplante estima que seria preciso pelo menos o dobro de órgãos para atender à demanda.
De janeiro a setembro deste ano, o Brasil registrou 4.794 potenciais doadores, que tiveram diagnóstico de morte cerebral. Mas, em quase metade dos casos, a família disse não à doação.
O presidente da Associação de Transplante diz que as famílias não têm o que temer na hora de doar. “Não tem nenhuma probabilidade, quando o diagnóstico de morte cerebral é feito, que isso não tenha ocorrido. Porque você se cercou de todos os cuidados para que não haja nenhuma dúvida sobre o sistema, sobre a credibilidade dessa informação. Cada pessoa que falece pode ajudar 14 pessoas e não perde nada com isso” diz Paulo Rêgo.
As listas de espera são estaduais, mas o sistema de transplante é nacional. Os pacientes podem se inscrever num estado diferente, mas não em dois ao mesmo tempo.
Rogério é do interior do Amazonas. Entrou na fila de São Paulo porque o estado dele não faz transplante renal em crianças. A família soube que tinha surgido um doador na quinta passada. Foi um longo trajeto até chegar ao hospital. Seis horas de barco de Beruri até Manaus. Depois, um voo de Manaus a Brasília. Outro de Brasília a São Paulo. E o avião não conseguiu pousar por causa da chuva e voltou pra Brasília.
“Eu fiquei muito triste assim e vim de tanta dificuldade, né? Mas assim mesmo, eles falaram que vinham trazer ele”, conta Ronaldo Fernandes, pai do Rogério.
Rogério só chegou a São Paulo quase 48 horas depois do início da viagem. Enfim, fez o transplante. Agora, Rogério espera fazer o que qualquer criança faz e nem se toca: “Eu agora vou beber água, que eu não podia beber, jogar bola e andar de bicicleta”.
CONFIRA REPORTAGEM NA ÍNTEGRA
Fonte: Jornal Nacional – https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/12/04/brasil-tem-30-mil-na-fila-de-espera-por-um-transplante-de-orgaos.ghtml – 04/12/2018