Dia D da Diálise chama a atenção para a crise no setor

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No próximo dia 29 de agosto, na Cinelândia, ocorre o Dia D da Diálise, promovida pela Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT). O evento ocorre simultâneo em várias cidades brasileiras e tem como o objetivo chamar a atenção da população e das autoridades para um problema que só cresce: a falta crônica de financiamento adequado para as clínicas de diálise que prestam serviço ao SUS. Isso compromete a qualidade do tratamento renal crônico e o acesso dos pacientes. Nos últimos anos, houve aumento de 71% no número de pacientes dependentes de diálise, enquanto o número de clínicas aumentou apenas 15%.
Atualmente, os custos operacionais com insumos importados e pessoal especializado estão impedindo as clínicas de investirem em expansão e novas tecnologias. De acordo com a Assessoria da Associação, apesar da baixa remuneração da tabela SUS, o Ministério da Saúde paga em dia para os fundos estaduais e municipais de saúde repassarem o recurso às clínicas, porém as secretarias sem justificativa, retém o repasse por mais de 30 dias. Por conta disso, foi criada a campanha de valorização “Vidas importam, a diálise não pode parar”. São mais de 120 mil pacientes renais crônicos que fazem diálise em 750 clínicas espalhadas pelo país e que dependem deste tratamento para manter uma vida próxima do normal, podendo trabalhar, ir ao cinema, viajar, praticar exercícios, jantar fora etc.
Tratamento em risco de colapso
A Nefrologista Carmen Vilarino acredita que a população precisa ter conhecimento que o tratamento que salva a vida de vários pacientes corre o risco de entrar em colapso. “O setor vem sofrendo dificuldades financeiras extremas decorrentes do alto custo do tratamento sem a devida contrapartida financeira por parte dos governos federais; estaduais e municipais; sem falar no atraso dos repasses pelos estados e municípios da verba destinada as unidades que já é insuficiente e ainda demora a entrar no caixa.” – explica Carmen.
O presidente da ABCDT Marcos Alexandre Vieira afirma que a ideia é conscientizar as pessoas. “Queremos levar para as ruas as histórias das pessoas impactadas pela crise da diálise, buscando causar envolvimento da sociedade com o assunto”, afirma Marcos. Para isso, a iniciativa se concentrará em cidades onde existam clínicas de diálise, e, em locais com grande circulação de pessoas, amparada por material produzido para este fim, desenvolvendo-se ações de interação com a população local. Além disso, os parceiros da campanha buscarão realizar uma audiência pública no dia D sobre a crise da diálise, com parlamentares locais, para gerar debate relacionado ao tema. O contato com personalidades locais dos mais diversos segmentos – como cultura, artes visuais, esporte e digital influencers – também está previsto, para que possam apoiar o evento.
O Rio será uma das cidades em que a campanha será mais forte, com:
– presença de pacientes renais crônicos “uniformizados” (camiseta da campanha);
– presença de técnicos “uniformizados” (camiseta da campanha) para interagir com o público, tirando eventuais dúvidas sobre a doença renal crônica;
– uma tenda de 4m2, com mesa e cadeiras (para aferição de pressão arterial, teste glicêmico e/ou divulgação de material com esclarecimentos);
– prospectos (flyer) para distribuição ao público, banners/faixas;
– caixa de som, microfone e uma máquina de HD* e poltrona (para simulação de HD).
A diálise é um tratamento que causa pavor nos pacientes, muitas das vezes por preconceito e falta de informação sobre o método. Ela é fundamental para o paciente renal crônico, pois faz o papel dos rins de filtrar o sangue e retirar todas as suas impurezas. O tratamento deve ser feito, pelo menos, três vezes por semana com duração de quatro horas cada sessão. De acordo com a Dra. Carmen, uma das grandes dificuldades de quem precisa da diálise é encontrar vaga, mas infelizmente, não é o único. “Após ter conseguido, ainda são várias as dificuldades, de deslocamento dos pacientes para o tratamento, de confecção de acesso vascular (os pacientes são encaminhados em geral sem o acesso vascular definitivo para hemodiálise e sem o acesso peritoneal para a diálise peritoneal) e os serviços de cirurgia que realizam a confecção destes acessos não aceitam receber pela tabela do SUS, sendo mais um subsídio que as clínicas têm que ofertar aos pacientes, o mesmo acontecendo com os exames complementares que têm custos também parcialmente cobertos pelo estado. E ainda existem exames que não são cobertos pelo estado, tendo a clínica que custeá-los e a falta de hospitais públicos que deem retaguarda aos serviços de diálise em caso de complicações. Também há dificuldades em se obter medicamentos coadjuvantes necessários ao tratamento dos pacientes; as clínicas mal recebem para investir em infraestrutura e no seu pessoal qualificado para atender a crescente demanda do tratamento. Hoje, a maior parte da mão de obra de enfermagem é treinada dentro dos próprios serviços”, relata a nefrologista.
A hemodiálise é um dos maiores avanços da medicina
A dra. Carmen é taxativa quando afirma que interromper o tratamento, por qualquer motivo, pode significar a morte do paciente. “O paciente portador de insuficiência renal estágio V ao interromper o seu tratamento dialítico, terá consequentemente sua vida abreviada, já que as toxinas oriundas do metabolismo não serão eliminadas pelos rins que não funcionam”, finaliza.
Existem dois tipos de diálise: a hemodiálise, que é feita pelo sangue com um filtro artificial, e a diálise peritoneal, que usa o peritônio, uma membrana que envolve os órgãos abdominais como filtro. O paciente insuficiente renal é ligado a uma máquina que puxa seu sangue através de uma bomba circuladora. Esse sangue passa por um filtro que possui uma membrana semipermeável, que retira as toxinas e as substâncias em excesso, e, devolve o sangue limpo para o paciente.
A hemodiálise é um dos maiores avanços da medicina. Os rins são os únicos órgãos nobres que podem ser substituídos, ainda que não perfeitamente, por uma máquina. Se a pessoa tem uma falência do coração, do cérebro, dos pulmões, do fígado, etc. e não se submeter a um transplante de órgãos, o seu destino será impreterivelmente a morte. Se o rim entrar em falência, o paciente passará a fazer diálise e ainda poderá viver e ser produtivo por muitos anos. De fato não é nada agradável fazer diálise, porém o tratamento tem que ser encarado como uma oportunidade de vida em uma doença que há poucas décadas era fatal. Hoje as pessoas dialisam e levam uma vida próxima do normal, podem trabalhar, ir ao cinema, viajar, praticar exercícios, jantar fora etc.
Os pacientes renais crônicos dependentes de terapia renal substitutiva (diálise peritoneal contínua e hemodiálise) apresentam limitações no seu cotidiano e vivenciam inúmeras perdas e mudanças biopsicossociais, que, por mais que tenham uma vida perto do normal, interferem na sua qualidade de vida. Portanto, estar em tratamento hemodialítico três vezes por semana ou em diálise peritoneal diariamente traz aos renais crônicos repercussões nos contextos, físico, emocional e social de suas vidas. A depressão é a complicação do humor mais comum entre estes pacientes, e geralmente significa uma resposta a alguma perda real ou imaginada, na qual se configuram humor depressivo persistente, autoimagem prejudicada e sentimentos pessimistas, além de queixas fisiológicas como distúrbio de sono, alterações de apetite e peso, diminuição de interesse sexual, entre outros. Ou seja, o paciente renal crônico é extremamente fragilizado. E por isso as clínicas buscam sempre manter um tratamento de qualidade, tentando manter a rotina desses pacientes o mais perto possível do normal.
Fonte: Eu Rio – http://eurio.com.br/noticia/1538/dia-d-da-dialise-chama-a-atencao-para-a-crise-no-s.html – 13/08/2018

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Foto Divulgação – SBN