Clínicas nefrológicas paralisam novos atendimentos

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Verba de mais de R$ 3 milhões ainda não foi repassada pela Prefeitura para manter tratamento.
O atendimento de novos pacientes renais vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS) foi paralisado na tarde de ontem (26), devido à morosidade da Prefeitura em repassar a verba de R$ 3.300 milhões às clínicas nefrológicas de Goiânia. O valor auxilia essas unidades a realizarem a hemodiálise em pacientes dependentes do SUS e já se encontra depositado em conta desde o dia 1º de setembro.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Nefrologia Regional de Goiás, Ciro Bruno Silveira Costa, as clínicas se encontram em estado crítico e não conseguem oferecer atendimento regularizado aos pacientes. Com a paralisação, 30 novos pacientes renais podem deixar de ser atendidos por mês. “Enquanto a Prefeitura não regularizar a situação em 100%, não será possível normalizar o atendimento”, informou.
As verbas são transferidas de dois em dois meses e o valor a ser repassado pela administração municipal é referente aos meses de julho e agosto, no entanto, a Prefeitura ainda deve valores de outubro do ano passado. A dívida dessa época, segundo Cloldoaldo Pereira de Araújo, 38, representante dos pacientes renais em Goiânia, passou a ser paga no início deste ano em parcelas e ainda restam 20% a ser repassado, cerca de R$ 700 mil.
Por nota, a Secretaria Municipal de Saúde comunicou que o pagamento da verba está previsto para a semana que vem, mas a data não foi confirmada. A SMS ainda informou que negociações estão sendo feitas com as clínicas para que o serviço prestado aos pacientes seja mantido. Segundo informações do presidente Ciro Bruno, a Prefeitura não tem atendido representantes da causa para discutir e negociar e que ainda espera uma posição das autoridades competentes.
Problemas
Cloldoaldo também é paciente renal e faz o tratamento há 13 anos. Ele relata que essa demora no repasse implica até mesmo na saúde emocional dos pacientes e da própria equipe médica. Na clínica em que ele realiza a hemodiálise, médicas estão retirando grandes quantias do próprio bolso para arcar com as despesas. “A situação está inviabilizando até a abertura de novas clínicas, e as já existentes correm o risco de serem fechadas”, diz.
Em algumas clínicas, o tratamento é feito com materiais reutilizados mais do que o permitido em lei. O capilar – por onde entra e sai o sangue – por exemplo, pode ser reutilizado em máquina até 20 vezes, se for reuso manual o permitido é 12 vezes; ele tem sido reaproveitado em quantidades maiores no esforço de manter o atendimento.
Uma manifestação está sendo organizada pelos próprios pacientes renais e familiares, a qual será realizada na manhã da próxima quarta-feira (28), em frente ao Paço Municipal. Após o ato, o Ministério Público será procurado pelos pacientes para oficializar as demandas. O intuito das ações é chamar a atenção para a situação e exigir a solução dos problemas, “é uma tragédia anunciada, os pacientes vão morrer”, lamenta Cloldoaldo.
Defasagem
Os 1.600 pacientes renais já atendidos pelo SUS serão mantidos na realização do tratamento em Goiânia. Caso o problema não seja solucionado, vidas podem ser perdidas. Uma pessoa pode chegar a falecer com apenas um dia sem o tratamento; é uma situação bem variável, mas, em média, sete dias é o limite entre a vida e a morte de um paciente sem a hemodiálise.
O Estado possui cerca de 4 mil pacientes renais. No Brasil, a porcentagem de novos casos é de 10% ao ano. 90% desses pacientes são atendidos pelo SUS e a tabela do Sistema Único de Saúde não é atualizada há quatro anos, segundo Ciro. “O tratamento custa R$ 250 e o SUS só paga o valor de R$ 179, a tabela está toda defasada”, informa o presidente.
Fonte: O HOJE http://www.ohoje.com.br/ – 27/09/2016