Captação de doadores em um hospital de alta complexidade conta com o trabalho de técnicos capacitados.
Ela caminha pelos corredores do maior hospital público estadual. Com passos firmes e uma função que carrega amor e compaixão ao próximo, a enfermeira Eleonora Villar entra em áreas como a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e Unidade de Acidente Vascular Cerebral (UAVC) do Hospital Geral do Estado (HGE) na busca por doadores de órgãos para transplante.
“É gratificante fazer parte de algo tão grandioso, capaz de trazer vida ou qualidade de vida para tantas pessoas”, relatou a profissional, que é uma das responsáveis pela busca ativa de doadores na unidade hospitalar.
A enfermeira faz visitas aos setores críticos, onde há pacientes graves, para analisar a possibilidade da doação, com protocolos específicos. A partir daí, um grupo de profissionais da Organização de Procura de Órgãos e Tecidos (OPO) da unidade hospitalar, área que Eleonora também participa, trabalha em equipe para mostrar à família a importância da doação de órgãos, responsável por salvar tantas vidas.
Hospitais como Arthur Ramos, Usineiros, Universitário, Sanatório e Santa Casa de Maceió, também recebem a visita dos profissionais da OPO do HGE. “A organização tem um papel fundamental nos hospitais, identificando o provável doador, sensibilizando a família e mostrando o benefício que a doação fará as pessoas que estão esperando com ansiedade por mais uma chance de continuar vivendo”, salientou a enfermeira Claudete Balzan, coordenadora da OPO.
Maior doador
De acordo com a enfermeira, existe uma organização de Procura de Órgãos e Tecidos para cada dois milhões de habitantes. Em Alagoas, ela está instalada no HGE. O hospital tornou-se referência na captação de doadores, sendo o maior fornecedor de órgãos do Estado. Dados da Central de Transplantes mostram que quase 90% dos doadores alagoanos vêm da unidade hospitalar. “A OPO substitui a Comissão Interna de Captação no HGE. Mas no âmbito estadual, ela também supervisiona e capacita as comissões de todos os hospitais do Estado”, explicou Claudete.
Os profissionais da OPO, além de identificar os potenciais doadores, acompanham todo o processo de realização de exames para viabilizar a doação. “A equipe multiprofissional é constituída por cinco médicos, três deles oftalmologistas que realizam a captação de córneas, seis enfermeiras plantonistas presenciais, uma psicóloga diarista, uma coordenadora de Enfermagem e um burocrata”.
Carmem Alice Dantas, responsável pela Central de Transplantes em Alagoas, ressalta que o HGE foi o primeiro hospital a se organizar com a sensibilização dos profissionais e familiares em Alagoas. “O Hospital Geral do Estado é uma instituição de referência em urgência e emergência, em atendimentos de traumas. O que o torna um hospital com maior probabilidade de notificações.
Por isso, contamos, estrategicamente, com a OPO na unidade hospitalar. O maior número de captações está relacionado às córneas, que podem ser captadas em até seis horas, depois de decretada a morte encefálica do paciente”, observou Carmem Alice.
Vida salva
O sargento da Polícia Militar de Alagoas (PMAL), Adeíldo José da Silva, 49 anos, foi um dos beneficiados pela solidariedade de uma família que, ao perder seu familiar, doou os órgãos. O militar, pai de dois filhos e com dois netos, vivia com problemas cardíacos. Ele chegou a realizar duas cirurgias para troca de válvula e uma ponte de safena. Mas, apesar disso, o coração não aguentou e só um transplante salvaria sua vida.
Após entrar na fila de espera por um órgão, Adeíldo Silva, que não deixou de trabalhar, sofreu uma crise descompassada e precisou ser internado já em estado clínico gravíssimo. Foi neste momento, que surgiu um doador. “Lembro como se fosse hoje. A equipe entrando na minha enfermaria para dizer que eu seria o receptor de um novo coração. Um novo fôlego, uma nova vida surgiu desde então”, contou o militar.
Fila de espera
Atualmente, existem 352 pessoas na fila de espera, aguardando por um transplante em Alagoas. São 138 esperando por um transplante de córnea, 212 por um transplante de rim e duas pessoas a espera de um coração. “Estamos próximos da média nacional do tempo de espera para a maioria dos órgãos. Já no que diz respeito a córneas, o tempo é de um ano, um dos mais baixos do Brasil”, destacou Carmem Alice.
Processo de doação e transplante
Antes da captação dos órgãos são realizados testes clínicos no possível doador. A partir disto, é preciso correr contra o tempo, uma vez que a vida útil do órgão precisa ser preservada. Se bem conservado, o coração tem duração de 4 horas, o fígado, de 12 a 24 horas, e os rins, 36 a 48 horas.
“O processo é complexo, envolve o melhor em recursos humanos e a mais alta tecnologia disponível. Cada doador permite que seis pessoas tenham sua vida salva ou melhorada. Dois pacientes voltam a enxergar, dois deixam de fazer hemodiálise e dois têm sua vida salva ao receber um coração e um fígado”, observou Claudete Balzan.
“Para ser doador, basta comunicar à família o desejo de doar. A anuência familiar é um fator primordial em doação de órgãos. Muitas famílias ainda deixam de doar por desconhecer a vontade do familiar”, salientou Claudete Balzan.
Fonte: Tribuna Hoje http://www.tribunahoje.com – 23/08/2016