Evitar ir ao pronto-socorro por considerá-lo um ambiente lotado e não achar a opinião do médico importante para sintomas de saúde estão entre as principais causas apresentadas pelos brasileiros para automedicar-se, de acordo com a segunda edição de uma pesquisa do Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade (ICTQ) sobre o assunto no Brasil. O levantamento mostra que 72% da população toma remédio por conta própria e 40% faz auto-diagnóstico usando a internet.
A primeira edição foi feita em 2014, quando o índice de automedicação era de 76,4%. Neste ano, foram ouvidas 2.340 pessoas em 16 cidades e, apesar da queda, o dado sobre auto-diagnóstico foi considerado preocupante pelo condutor do estudo, Marcus Vinicius Andrade, diretor de pesquisa do Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico do ICTQ.
“Um aspecto relevante deste ano foi o índice de pessoas que fazem o auto-diagnóstico: 40% dos entrevistados, além de automedicar-se, fazem esse tipo de diagnóstico. O que as pessoas não entendem é que, quando colocam qualquer sintoma de saúde na internet, há uma infinidade de patologias e elas acabam escolhendo uma delas sem um diagnóstico preciso.”
Durante 12 anos, a designer Valéria Rezende, de 23 anos, praticou a automedicação para tratar uma urticária crônica. Parou apenas neste ano, após apresentar disfunções nos rins.
“Tenho acompanhamento adequado desde janeiro deste ano com especialistas em urticária, mas, em outros momentos, já tinha feito outros tratamentos. Com o fracasso deles, eu acabava caindo na automedicação”, conta.
Ao parar de tomar remédio por conta própria, Valéria teve de enfrentar a abstinência. “Foi estranho, comecei a passar mal, ter tontura e febre. Isso durou um mês.” Mas ela também já está convivendo com os aspectos positivos, pois o medicamento que tomava causava retenção de líquido e, desde que parou, a designer já perdeu dois quilos. “Tenho certeza de que muita coisa ainda vai mudar em mim por dentro e por fora.”
A última vez que a blogueira Francielli Rezende, de 29 anos, se medicou foi em 2008, quando quase ficou internada por causa de uma infecção urinária. “Era recorrente e eu já conhecia os remédios. Na época, não precisava de receita para comprar. Mas o médico me explicou que, como tomava o remédio por conta, não fazia mais efeito e a bactéria estava resistente.”
Risco
Médica especialista em dor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), Alexandra Raffaini diz que o maior risco da automedicação é adiar o diagnóstico de determinadas doenças. “A pessoa pode tomar um remédio que não contribui para a melhora da saúde e perder a oportunidade de ter um diagnóstico com maior chance de controle e de cura.”
Alexandra diz que tomar o remédio por conta própria já é uma questão cultural, principalmente quando há dor. “Mas as pessoas precisam entender que a dor é um alarme de que algo está errado. Ao automedicar-se, elas tratam o sintoma e não a doença em si.”
Lígia Brito, infectologista e clínica geral do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, alerta que, dependendo da dose e do tipo de medicamento, os remédios podem trazer sérias complicações.
“Antitérmicos e analgésicos podem causar problemas no fígado, os analgésicos e anti-inflamatórios podem causar complicações no estômago. E os anti-inflamatórios também podem desencadear problemas renais”, explica.
Lígia diz que é necessário ter confiança nos profissionais da área. “É complicado falar que não tem paciência para esperar. As pessoas têm de priorizar a saúde.”
Fonte: UOL http://noticias.uol.com.br – 01/08/2016