A Central de Notificação Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos (CNCDO) Oeste, da qual Uberlândia e outros 86 municípios fazem parte, registrou uma queda de 13,1% nas doações de múltiplos órgãos (de 38 para 33) e 10,2% nas doações de córneas (de 352 para 316) de 2014 para 2015. Estes são os dois procedimentos realizados na regional.
A principal causa dessa redução, segundo a central, é a falta de estrutura do sistema de saúde, que faz com que 90% dos casos de potenciais doadores nem sequer cheguem a ser notificados, por desconhecimento dos médicos ou pela impossibilidade de realizarem exames para diagnosticar, com precisão, a causa da morte. A escassez de recursos financeiros para manter equipes multiprofissionais, já que o procedimento é de alta complexidade e demanda deslocamentos céleres para captação, também é outro entrave.
De acordo com o médico regulador da central, Thomson Palma, o cenário de crise financeira que atingiu o País afetou também os transplantes de órgãos. “Transplantes são procedimentos de alta complexidade, demandam recursos altos não só com a equipe, que é bastante especializada, mas com deslocamentos para captação e a própria cirurgia”, afirmou.
Ainda segundo ele, foram realizados 34 transplantes de rins e 158 de córnea em 2015, contra 38 e 227, respectivamente, em 2014. “Esses transplantes são realizados pela regional. Os números estão muito baixos, se formos considerar que cada doador pode beneficiar duas pessoas. Isso aconteceu porque, no primeiro semestre, não captamos órgãos fora do eixo Uberlândia-Uberaba, por problemas na logística de deslocamento de uma das equipes”, disse. Os números de transplantes são diferentes dos referentes a doações porque um órgão doado em uma regional pode ter sido transplantado em outra.
Para minimizar essas deficiências nos transplantes, Palma afirma que a saída é a conscientização. “Os médicos não são estimulados, durante a graduação, a notificar a central dos potenciais doadores. Começamos a cobrar a notificação de órgãos nas UAIs, que antes não notificavam. E é preciso que as famílias também sejam bem informadas, porque, cerca de 40% delas, se recusam a fazer a doação”, disse.
Luta
Depois de dois anos e meio fazendo hemodiálise três vezes por semana, a aposentada Eliane Gonçalves de Carvalho conseguiu um transplante de rim em novembro de 2015, em Uberlândia. “Meus rins estavam quase parados, precisava fazer hemodiálise para sobreviver. Nas primeiras sessões, viram que o melhor seria um transplante. Fiquei entre 2011 e 2015 aguardando. Depois da cirurgia, voltei a viver”, disse.
Uma das filhas, Ana Carolina Gonçalves, afirmou que a doença da mãe mudou a visão da família sobre transplante.
“Antes, não doávamos nem sangue, mas vimos o quanto essa atitude é importante para as pessoas. Somos todos doadores agora”, disse.
Outro caso
Mesmo com a dor da perda de Veridiana Rodrigues Carneiro, de 36 anos, assassinada em 27 de outubro de 2015, no bairro Santa Mônica, zona leste de Uberlândia, a família dela doou suas córneas. O ex-namorado da professora é o suspeito de ter cometido o crime. Em entrevista ao CORREIO de Uberlândia, em 2 de novembro, a mãe dela, Sueli Matias Rodrigues, apontou a importância da doação. “Que coisa linda eu saber que alguém que não via a luz está agora com a luz dos olhos da minha filha. Isso é uma bênção muito grande. Agradeço a Deus por ter me dado sobriedade naquele momento de tanta dor”, afirmou.
Fonte: Correio de Uberlândia – 26/01/2016