Doação de órgãos foi rejeitada por 55% das famílias alagoanas em 2014

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Nos primeiros seis meses deste ano, o número chega a 57%. Em 2014, um total de 119 doações se concretizaram no estado.
Dados da Central de Transplantes de Alagoas apontam que 55% das famílias rejeitaram a doação de órgãos em 2014. A estatística corresponde aos casos em que houve morte cerebral comprovada do paciente, mas que os responsáveis não autorizaram o procedimento de retirada de órgãos para destinar para pessoas que aguardam transplantes.

A morte cerebral do paciente permite a doação múltipla de órgãos. Para confirmar o diagnóstico, são feitos três exames com intervalo de seis horas entre eles. Após todas as etapas, é realizada uma entrevista com a família para saber do interesse em doar.
No ano passado, a central recebeu 41 notificações de potenciais doadores múltiplos de órgãos. Os hospitais onde há pacientes com suspeita de morte cerebral devem enviar essas informações obrigatoriamente.
Depois dos exames, quando é comprovada a morte cerebral ou não, e a realização de algumas entrevistas, restaram apenas 12 doadores efetivos. Deste número, só nove se concretizaram, já que nos outros tiveram parada cardíaca e a doação múltipla precisou ser interrompida.
Fila de espera
O estado de Alagoas só está credenciado para o transplante de rim, córnea e coração. A Central de Transplantes de Alagoas é a responsável em estruturar e gerenciar as listas de espera. Atualmente 100 pessoas aguardam uma córnea, 250 esperam por um rim e três precisam de coração.
O trabalho com os três órgãos não impede a doação dos outros, pelo contrário, no momento da autorização da família, há o contato imediato com a central nacional para a discussão sobre como será enviado para outro local.
A limitação foi a motivo principal para Márcia Oliveira, de 58 anos, ir para um hospital na capital paulista. Ela precisava de um transplante duplo de fígado e rim. Depois de muitas sessões de hemodiálise, ela chegou a entrar em vários comas, mas no dia 5 de setembro de 2011 teve sua vida modificada.
"Não tem como esquecer daquele dia. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Estava assistindo televisão e fazendo café quando soube que tinham um rim e um fígado para mim. Minhas malas estavam prontas para ir embora, os médicos estavam desacreditados", relata.
Ela chegou a pesar quase 100 kg quando fazia as sessões de hemodiálise. Hoje tem 67 kg e muita história para contar. Sobreviveu as 13 horas da cirurgia do transplante e leva uma vida praticamente normal. Em 2012 ainda passou por uma rejeição do fígado.
"Em um exame de rotina em São Paulo descobri que tinha voltado a ter hepatite C. Foi um susto grande, era sério e eu não podia tomar o remédio pois iria prejudicar o meu rim. Mas com ajuda dos médicos o quadro foi revertido e estou bem", disse.
Procedimentos realizados
Este ano, já foram realizados no estado 44 transplantes de órgãos, sendo 33 de córnea, nove de rim e dois de coração. A córnea é um dos mais frequentes, pois não há a necessidade de morte cerebral para que seja concluída a doação, outras causas de óbito, exceto infecções, não inviabilizam o processo.
Já em 2014, houve a concretização de 119 transplantes nos hospitais alagoanos, deste total, 90 deles foram de córnea, 26 de rim e apenas 3 de coração.
Mudança de pespectiva
Informações referentes aos primeiros seis meses do ano confirmam a rejeição dos familiares de possíveis doadores. De acordo com a coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, Kelly Brandão, mesmo com as sensibilizações, o número de rejeições já chegou a 57%.
"A decisão de doar órgãos não é fácil para a família, por isso o número persiste. Eu sempre aconselho as pessoas a avisarem aos parentes que são doadoras, pois não é possível deixar uma autorização escrita antes de morrer e a morte é um ciclo natural, pode acontecer a qualquer momento", explica.
Márcia Oliveira também estava dentro das estatísticas das pessoas que não autorizariam a doação de órgãos. Mas o processo por qual passou mudou todas as concepções que ela tinha sobre o assunto e hoje ela vê como um ato de extrema importância.
"Eu cheguei a ser contra a doação, mas depois do que passei, só tenho a agradecer a família do meu doador, que me proporcionou estar viva. Além disso, quero dizer para todas as pessoas que façam, é possível salvar muitas vidas com a doação", justifica.
Sensibilização
Kelly Brandão acredita que Alagoas vem acompanhando o crescimento das doações nacionalmente. Em março de 2014, uma equipe especializada em fazer a captação de potenciais doadores deu uma reviravolta nas doações. O grupo é formado por médicos, assistentes sociais e enfermeiros, a disposição 24 horas.
"Ano passado tivemos um número considerável de transplantes realizados e a equipe teve um papel fundamental. Alagoas tem um grande potencial para doação, fazemos campanhas de sensibilização constantemente e têm surtido efeito", enfatiza.
Fonte: G1 – 29/06/2015

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