Falta de remédio deixa maior hospital do DF 8 meses sem transplantar rins

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Por falta de remédios e insumos básicos para exames, o Hospital de Base do Distrito Federal passou os últimos oito meses sem realizar cirurgias de transplante de rins. A unidade é considerada referência para operações do tipo e, de acordo com a Secretaria de Saúde, chegou a recusar órgãos devido à situação. Coordenadora da área, Daniela Salomão afirma que o governo sanou os problemas em abril e pôde realizar nesta terça-feira (12) o primeiro procedimento de 2015. Há atualmente 199 pessoas na fila pela intervenção.

Não estávamos fazendo por precaução com o paciente, caso ele necessitasse de algo que não estivesse disponível. Mas o serviço nunca esteve parado. Encaminhamos os pacientes aos outros hospitais", Daniela Salomão, coordenadora de Transplantes
O último transplante havia sido, até então, feito em 15 de setembro. Depois, com déficit de imunossupressores (que ajudam a evitar a rejeição do órgão), antibióticos (que combatem infecções bacterianas) e insumos para os testes laboratoriais, as outras intervenções foram adiadas.
Em novembro, a equipe da área se reuniu na Central de Notificação, Captação e Distribuição de órgãos para comunicar a situação. A decisão foi de fechar o serviço no hospital, que é o maior da rede pública do DF, até que as condições mínimas fossem restabelecidas.
Enquanto isso, segundo a secretaria, o Hospital Universitário de Brasília e o Instituto de Cardiologia receberam parte significativa da demanda do Base – apenas casos em que o doador era um paciente vivo teriam sido suspensos para que pudessem ser realizados na unidade de referência.
"Não estávamos fazendo [no Hospital de Base] por precaução com o paciente, caso ele necessitasse de algo que não estivesse disponível", diz Daniela. "Mas o serviço nunca esteve parado. Encaminhamos os pacientes aos outros hospitais."
A tentativa de adaptação à condição não impediu que houvesse queda no número de intervenções. Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos apontam que o Hospital Universitário de Brasília e o Instituto de Cardiologia realizaram apenas oito cirurgias no primeiro trimestre deste ano. A quantidade corresponde à média mensal de 2014, como aponta outro relatório da entidade.
Segundo a publicação, foram cem doações de rins no ano passado – quando o Base manteve o serviço até setembro. O DF foi a quinta unidade da federação em números proporcionais de cirurgias do tipo. O índice foi menor do que em 2013, quando ocorreram 128 procedimentos e a capital do país ocupava a segunda posição.
O Base sempre foi a referência. Os pacientes ficam tristes, e o que tem acontecido de verdade é que a maioria tem procurado outros estados. A fila poderia ser bem maior, mas há tanta burocracia para você fazer os exames – você tem pedido de todos na mesma época, mas só consegue marcar o segundo quando faz o primeiro, e o primeiro só é marcado para quando está bem perto de os pedidos vencerem"
Alessandro Lemos, membro da Associação de Renais de Brasília.
A coordenadora de Transplantes afirma que a redução tem mais a ver com uma mudança no perfil do doador do que com a suspensão das cirurgias na unidade de referência. "Antes tínhamos aquele que foi vítima de trauma e era jovem. Hoje são muitos idosos que sofreram AVC. Imagina você pôr o rim de um idoso, que estava com vários problemas de saúde quando vivo, em um jovem adulto. Não pudemos fazer muitos transplantes justamente por falta de condição mesmo, vários órgãos foram descartados por inviabilidade."
Representante da Associação de Renais de Brasília, Alessandro Lemos afirma que na prática a questão é outra e que os pacientes precisaram se readaptar depois do fechamento do serviço de transplante do órgão no Hospital de Base. Ele, que mora em Ceilândia e tem 35 anos, faz hemodiálise há quase duas décadas e conta enfrentar dificuldades para se inscrever para a doação.
"O Base sempre foi a referência. Os pacientes ficam tristes, e o que tem acontecido de verdade é que a maioria tem procurado outros estados. A fila poderia ser bem maior, mas há tanta burocracia para você fazer os exames – você tem pedido de todos na mesma época, mas só consegue marcar o segundo quando faz o primeiro, e o primeiro só é marcado para quando está bem perto de os pedidos vencerem", explica.
Doenças renais
Estudos da Secretaria de Saúde apontam que 10% da população adulta do DF tenha algum quadro de perda de função renal. Dentre as principais causas para a insuficiência estão hipertensão arterial, diabetes e glomerulonefrite (doença autoimune que causa inflamação crônica dos rins).
Segundo a pasta, cerca de 1,3 mil pessoas recebem tratamento para problemas nos rins em todos os hospitais da rede pública e em alguns conveniados. Mensalmente o Hospital Regional de Taguatinga, por exemplo, realiza 600 hemodiálises.
Proprietário de uma clínica particular que realiza 90 diálises por dia, o nefrologista Evandro Reis afirma que alguns cuidados podem ser adotados desde cedo para evitar doenças renais. A indicação principal é que as pessoas façam regularmente exames de sangue e urina que verificam como está o funcionamento do órgão, para então poder adotar medidas preventivas o quanto antes.
De acordo com Reis, a indicação de transplante só surge quando o rim tem a capacidade de filtração dos líquidos reduzida a menos de 10 mililitros por minuto – na normalidade, o índice varia entre 90 ml/minuto e 120 ml/minuto. "Quando não se tem a opção de obter um novo órgão é possível fazer a diálise. Ela só consegue manter uma das funções, que é a filtração. E o processo é desconfortável."
Em geral, pessoas que apresentam perda de função renal têm como sintoma falta de apetite, cansaço, palidez, inchaços nas pernas, aumento da pressão e alteração dos hábitos urinários. Os pacientes costumam fazer três sessões semanais de hemodiálise, cada uma de quatro horas.
O representante da Associação de Renais de Brasília, Alessandro Lemos, conta que perdeu os rins aos 17 anos depois de contrair uma infecção. "Não sabia que tinha pressão alta e aí a situação foi piorar. Faço hemodiálise desde a adolescência. Todo paciente renal, quando faz hemodiálise, fica muito debilitado. Ou ele fica encostado ou é aposentado."
Fonte: G 1 – 13/05/2015

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