O tratamento de hemodiálise feito por cerca de 2.200 pacientes com problemas renais no Rio Grande do Norte está ameaçado, de acordo com a Associação Brasileira de Centros de Diálise e Transplante. O diretor de Ações Políticas da entidade, o nefrologista José Euber Pereira Soares, afirma que os atendimentos realizados em convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS) não são pagos desde maio. Somente as clínicas do Estado deveriam ter recebido um valor estimado em R$ 3,5 milhões. Até o momento, porém, o atendimento vem sendo mantido. O Governo Federal nega a existência de atraso.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Ministério da Saúde afirmou que o pagamento não estaria atrasado. Os valores são repassados após os estados e municípios enviarem relatório de ‘produção’. O compromisso seria de pagar em até 45 dias. O MS afirmou que ainda ontem executaria o pagamento de R$ 316 milhões referente ao pagamento de tratamento de nefrologia em todo o país. Os dados quanto ao pagamento por unidade federativa não foram divulgados.
De acordo com o médico José Euber, que também é dono de uma clínica em Natal, a situação é nacional. A maior parte dos pacientes são atendidos através de convênio com o SUS, principalmente devido aos altos custos. Apenas uma das doze sessões mensais, custa R$ 180. “O governo não pode parar de pagar um tratamento como esse. É criminoso. A diálise é um procedimento alternativo de vida. Sem ele, os pacientes não podem sobreviver. Não sei se a presidenta está sabendo disso”, disse o médico, segundo o qual o repasse é mensal e aconteceria a cada dia 5.
O Rio Grande do Norte tem nove clínicas espalhadas nos municípios de Natal, Mossoró, Parnamirim, Assu, Caicó e Pau dos Ferros. Em todo o Brasil, há 650 clínicas, que atendem quase 102 mil pessoas. A falta de pagamento seria, ainda de acordo com ele, um problema nacional. Ainda segundo o médico, a última resposta recebida é de que faltava dinheiro. “Em uma sala temos um enfermeiro e quatro auxiliares, o que é uma exigência do Ministério da Saúde. O filtro é descartável, e gera custo. Eles são altamente rígidos, mas não estão fazendo a parte deles. O jeito vai ser recorrer aos bancos”, argumentou.
José Euber acrescenta que apenas 5% dos pacientes têm plano de saúde. Os outros são atendidos graças ao SUS, mas o valor pago pelo convênio estaria abaixo do ideal. “O valor está defasado em 30%. Uma sessão custa R$ 245”, coloca. A associação contatou deputados federais, que se comprometeram a intermediar a situação. A diálise é a filtragem do sangue, feita de forma artificial, nos casos de deficiência no funcionamento dos rins.
Segundo o médico, o tratamento é seguro e considerado um procedimento alternativo de vida. Porém é imprescindível. Numa sessão, o sangue sai do corpo, passa por um equipamento com um filtro descartável e retorna ao paciente com menos impurezas. Sempre, durante quatro horas, três vezes por semana. Sem isso, o corpo fica vulnerável, sofre com infecções e outras complicações.
Há seis anos, a assistente social Suerda Barbosa da Silva, 46, passa por tratamento de hemodiálise, enquanto espera por um transplante renal. As visitas à clínica acontecem três vezes por semana, quando o sangue dela é filtrado. “A gente tem uma vida normal. É só ter uma dieta adequada e uma rotina tranquila. Não saio para balada, por exemplo”, esclarece. Ela se mostrou preocupada com a situação da falta de pagamento, pois afirma que sem ele não é possível sobreviver.
Apesar do transplante de rins ser mais fácil que outros, visto que pode ser feito com doador vivo, o médico José Euber diz que há pacientes que preferem não passar pelo procedimento e seguir a vida com a diálise.
Fonte: Tribuna do Norte – 16/07/2014