Gestão integrada é inexistente no sistema público de saúde

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Para Severino, da Benner, é preciso mudar radicalmente a cultura dos gestores para enfrentar dificuldades da integração.
O tema Saúde Pública é hoje objeto de grande preocupação de todos os brasileiros. Diariamente nos telejornais e nas páginas do noticiário nacional são inúmeras as reportagens, denúncias e artigos apontando a deficiência de uma rede que não suporta a demanda, baixa qualidade dos serviços, queixas e reclamações de usuários do SUS e dos profissionais da saúde. Mas haveria cura para um sistema aparentemente tão enfermo?

Atuando há muitos anos na área, em contato direto com os elos que compõem a complexa cadeia da saúde, sabemos que o conceito de gestão integrada empregado em larga escala na rede privada, praticamente inexiste no sistema público. No entanto, a Saúde Pública depende para sua manutenção e efetividade quase que totalmente do investimento em ferramentas de TI para a redução de indicadores e consequentemente de custos envolvidos no processo como um todo. Sem esta visão, dificilmente a conta existente entre verbas disponíveis e o custo efetivo da saúde vai fechar, pois cada vez mais os custos dos tratamentos aumentam, assim como a longevidade dos pacientes.
É preciso instaurar o choque de gestão, este velho conhecido do mercado privado, com base nas melhores práticas, em processos, planejamento, gestão e maximização de recursos, tudo apoiado por uma plataforma de tecnologia da informação. Todos ganhariam com isso, pacientes, profissionais, gestore s e os governos.
A maior dificuldade que existe é interligar a cadeia do sistema de saúde pública. São muitos os elementos que a compõem: Programa de Saúde da Família, Unidades Básicas, Unidades Especializadas, Laboratórios, Farmácias, Pronto Atendimento Médico (PAM), SAMU, Hospitais, entre outros, que recebem pacientes de baixa, média e alta complexidade. Tudo isto até hoje tem funcionado de forma independente. Se um paciente do PAM precisar de internação, independentemente do grau de urgência, não há como visualizar a disponibilidade dos leitos, onde há vaga ou não. E o exame que o paciente acabou de realizar na Unidade Básica vai ser pedido novamente no hospital que, por falta de integração e de um prontuário eletrônico unificado, vai repetir o procedimento e gerar um desperdício de recurso.
Por esta razão devemos insistir: não há como oferecer serviço público de saúde de qualidade se não houver a combinação de processos, tecnologia e pessoas (profissionais de saúde). Não há como gerir um sistema sem informação. Temos que usar indicadores, por exemplo, na hora de enfrentar uma epidemia, trocar informações sobre procedimentos, tipo de atendimento, resultados. Por exemplo, há o Programa de Saúde da Família, que poderia fornecer informações importantíssimas para o médico que atende os pacientes nos PAMs, mas isto não acontece porque as informações estão desagregadas. Ficam isoladas. Assim, os trabalhos se repetem, recursos preciosos e escassos são desperdiçados e o atendimento perde muito em qualidade. Como sabemos, pacientes chegam a ficar meses na fila de espera para realização de exames, ou ainda, aguardando o agendamento de uma consulta com um médico especialista. Ou seja, se não existir uma efetiva regulação, a tendência é o aumento das filas de espera e os pacientes terem suas doenças agravadas.
É preciso mudar radicalmente a cultura dos gestores da saúde pública brasileira para que acordem para a evasão de recursos que está ocorrendo. Tive a experiência de realizar um trabalho de consultoria junto a 15 hospitais públicos de São Paulo que apresentavam uma média de faturamento muito baixa. Realizamos um trabalho de mapeamento dos processos para entender porque a saúde financeira estava tão ruim em hospitais que tinham um volume expressivo de pacientes.
Percebemos por exemplo que 30% dos atendimentos realizados não eram faturados corretamente para o SUS e assim, o dinheiro não vinha para o hospital. O tempo de internação era em média sete dias, o que também estava acima da média do mercado que hoje é de quatro dias. Isto ocorria porque havia lentidão na entrega dos exames pedidos pelo médico e demora do médico para avaliar as altas, portanto o leito ficava ocupado por conta de uma ineficiência no processo, enquanto outros aguardam na fila. A o final deste trabalho, em seis meses, houve um aumento no faturamento destes hospitais da ordem de 90%. Eles ficaram muito mais eficientes, passaram a atender mais pacientes e melhoraram a gestão financeira.
A gestão pode trazer economias expressivas, reduções de custos como 46% em medicamentos, 50% em exames, ou seja, podemos com os mesmos recursos atender muito mais pacientes. Os Estados precisam colocar na ordem do dia projetos de saúde integrada, envolver as Prefeituras, estabelecer padrões, automatizar processos. É preciso otimizar o Cartão Único do SUS para a identificação dos pacientes como fazem as operadoras de planos de saúde privadas, organizar o prontuário eletrônico único, usar tecnologias móveis. Levar a saúde para o século XXI.
Para que as Prefeituras utilizem as verbas e repasses dos Programas do Ministério da Saúde, é preciso sistematizar informações e prestar contas. Muitas não conseguem e ficam à míngua, prejudicando milhares de pacientes.
A questão dos medicamentos também é crítica. Sem a gestão de estoques, temos excesso de um determinado produto em uma localidade e a escassez em outra região. O planejamento das compras permite, por exemplo, atender melhor cidades onde haja uma demanda maior por medicação para pressão alta, inclusive negociando melhor os custos com o laboratório fornecedor.
A tecnologia está aí, disponível para ser aplicada. Com ela pode-se colher informações determinantes de políticas de saúde mais eficientes, aumentar a qualidade dos serviços à população, melhorar o aproveitamento de recursos, ter maior transparência em todos os níveis que o serviço público requer, identificar gargalos, entre tantos benefícios. Sabemos que a Saúde não vai bem no Brasil, mas não podemos cruzar os braços e não integrar o sistema onde trafegam as informações que podem ser cruciais para a cura do sistema público de saúde.
Fonte: Saúde Web – 17/01/2014

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