Se a gente não for, morre’, diz paciente que viaja 200 km para hemodiálise

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Há cerca de 2 anos, clínica que oferecia o serviço em Ariquemes foi fechada. Sesau garante que nova clinica será instalada até dezembro deste ano.
Cansaço e mal-estar são algumas das consequências vividas por 22 pacientes de Ariquemes (RO) e região, que precisam viajar 200 quilômetros para fazer hemodiálise. Há cerca de dois anos, a clínica que oferecia o serviço no município foi fechada por falta de condições sanitárias e, desde então, os pacientes renais precisam se deslocar três vezes por semana para Porto Velho. No entanto, de acordo Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), o drama destes pacientes acaba ainda este ano, com a instalação de uma nova clinica na cidade.

A Feira do Produtor Rural de Ariquemes é o ponto de encontro dos pacientes, que embarcam às 10h da manhã. Aos poucos, pacientes de todas as idades vão chegando. Na espera pelo ônibus, Antônio Francisco da Silva, de 71 anos, que faz hemodiálise há quatro anos, relata as dificuldades da viagem. "Se a gente não for, morre; mas é muito difícil viajar 200 quilômetros para ir, e mais 200 quilômetros para voltar. Depois da máquina [hemodiálise] a gente passa muito mal, e ainda ter que vir batendo de lá para cá; e chegar às 11h da noite é muito difícil", enfatiza.
"É uma calamidade pública. Estamos à mercê do destino", ressalta Antônio Carlos da Silva, de 50 anos, paciente renal há dois anos. Silva conta que quando a clinica de hemodiálise do município foi fechada, a promessa das autoridades era instalar outra unidade em três meses. Enquanto isso, os doentes iriam receber o tratamento em Porto Velho. "Já vai fazer dois anos e continuamos nesta vida de viagens. Clamamos que as autoridades façam alguma coisa por nós. Já morreram 15 pacientes depois que começaram as viagens; vão esperar morrer mais quantos?", questiona o paciente.
Josiane Regis de Oliveira da Silva, de 17 anos, é a paciente mais jovem do grupo. A adolescente é moradora do município de Campo Novo de Rondônia, distante cerca de 110 quilômetros de Ariquemes. Ela lembra que há dois anos começou a sentir dores no estomago; ficou 12 dias internada e descobriu a insuficiência renal. Com o diagnóstico, ela teve que mudar de vida. "Parei de estudar; parei de sair, e tenho a vida focada na hemodiálise. Viajo mais de 300 quilômetros para chegar a Porto Velho. Tenho esperanças da clinica ser implantada em Ariquemes e eu poder ter uma vida mais normal. Poderia voltar a estudar, pois ficaria mais perto de casa", relata a jovem.
Para os cadeirantes, o sofrimento é ainda maior. João Cícero do Amaral, de 34 anos, faz hemodiálise há 15 anos. Amaral conta que precisa de ajuda para subir e descer do ônibus, além de ter mais dificuldades, em virtude da cadeira de rodas. Outro paciente cadeirante, Osvaldo Barbosa, de 79 anos, tem dificuldade na audição, no entanto sua acompanhante, a costureira Iva Silvana de Jesus, expõe os problemas. "Ele é meu padrasto e o trouxe para casa, para cuida-lo, pois não têm parentes aqui. Há 15 dias começamos esta vida de viagens e já sinto a mudança em nossas vidas. Já tive que parar de costurar, devido a dia-a-dia cansativo", ressalta.
Alimentação
Uma reclamação comum dos pacientes é quanto à alimentação. Conforme Antônio Carlos da Silva, os pacientes faziam as refeições no Hospital de Base em Porto Velho até março deste ano, até que houve uma mudança no cardápio. "Ficamos um ano e meio nos alimentando sem dieta. Daí mudou as refeições, que ficaram totalmente sem sal; sem condições de comer. Depois da hemodiálise saímos com enjoos, e aquela comida não desce", explica o paciente.
A solução encontrada pelos pacientes é levar dinheiro para comprar a refeição, ou levar a marmita de casa. Antonio Francisco da Silva conta que até um mês atrás, o ônibus parava em Itapuã do Oeste (RO) para os doentes almoçarem. "Almoçamos no meio na rua em Porto Velho. Eles [motoristas] não aceitam mais parar em Itapuã. Quem leva comida, come fria. Quem tem dinheiro compra, quem não tem passa fome", enfatiza Antonio Francisco.
A secretária de saúde do município, Regina dos Santos, explica que a alimentação foi modificada, embasada num laudo da nutricionista. Além disso, ressalta que o ônibus não para mais em Itapuã, justamente para os pacientes não comerem alimentos com excesso de sal ou gordura. "As refeições continuam sendo oferecidas pelo Hospital de Base, mas são hipossódicas, em virtude do problema de saúde dos pacientes. Quanto a parar em Itapuã, evitamos, pois sabemos que os pacientes podem passar mal na máquina depois de comer uma comida pesada", explica.
Sesau
De acordo com o secretário de estado da Saúde, Williames Pimentel, a licitação da empresa já foi concluída e as obras devem começar ainda em setembro. Pimentel ainda ressalta que atualmente acontece a licitação para a compra de 20 máquinas e que o governo está contratando médicos para ampliação da equipe. Mais de R$ 1 milhão, oriundo do governo do estado, serão investidos na clinica, que deve começar a atender até dezembro deste ano, conforme Pimentel.
Fonte: G1 – 09/09/2013

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