Acreditação não deve ser apenas um selo, advertem gestores

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Processo pode orientar mudança de cultura organizacional e promover melhorias definitivas nos processos de gestão das instituições hospitalares; fee for service é apontado como estímulo a não qualidade.
Se a obtenção das acreditações já é um desafio considerável para as instituições hospitalares, mantê-las também não é das tarefas mais fáceis. No entanto, se o processo é desde o início orientado para a melhoria dos processos assistenciais ao paciente, e não simplesmente à conquista de um selo, o processo de “pós-acreditação” pode ser facilitado.

Essa é uma das conclusões do IT Mídia Debate realizado nesta terça-feira (25) sobre os desafios do pós-acreditação, que reuniu o presidente do Hospital São Lucas de Ribeirão Preto (SP), Pedro Palocci; o diretor adjunto de prática assistenciais da Rede São Camilo, Marcelo Sartori; e o superintendente médico-assistencial do Sistema de Saúde Mãe de Deus (SSMD), Fábio Leite Gastal, além de plateia composta por gestores do setor.
“O mais importante no pós-acreditação começa no início da busca pela acreditação. Ela nada mais é que uma ferramenta de melhoria para processos. Neste momento você começa a instituir a política e a cultura de melhoria do atendimento ao paciente”, ponderou Sartori. “Não adianta só querer ter a acreditação em um espaço curto de tempo e não manter os processos. Ela apenas certifica o que foi feito e as melhorias conquistadas.”
Para Gastal, o ponto fundamental é a criação de uma cultura de avaliação contínua dos processos e da qualidade do atendimento. Assim, o papel dos gestores das instituições é manter as equipes desafiadas propondo novos objetivos. Acreditações internacionais podem estar entre eles, mas a ONA já representa uma “grande oportunidade para que todas as organizações do Brasil possam entrar neste processo que não tem fim, e mesmo as entidades certificadoras estarão sempre colocando a trave para cima, aumentando as exigências, resultando em um processo de melhoria e educação contínua”, diz o executivo.
Palocci diz que as instituições brasileiras precisam caminhar para o aumento da qualidade assistencial. “Nós ainda somos muito incompetentes na relação com o paciente”, disse Palocci. “A ONA é a grande oportunidade para todos hospitais brasileiros ingressarem no processo de acreditação. Qualidade assistencial tem um custo. Para 90% das instituições o caminho mais adequado seria esse.”
Apesar da percepção inicial do mercado de que uma acreditação representa apenas um aumento nos custos de atendimento do hospital, Pedro Palocci disse que o selo já é entendido como um incremento da qualidade e dos resultados oferecidos aos pacientes. Após um momento de crise, mesmo as operadoras de planos de saúde reajustaram suas tabelas de remuneração utilizando as acreditações como diferencial na hora de oferecer produtos.
“A precificação por qualidade foi incluída na tabela, de acordo com a certificação possuída pelo hospital, e o processo entendido como aumento de qualidade”, explica o gestor do hospital de Ribeirão Preto. “Indicadores foram fundamentais: taxa de reinternação, de complicações operatórias, de recuperação em cirurgias cardíacas etc. Todos os indicadores estratégicos assistências se transformaram em benefício para nós.”
Os indicadores, aliás, foram ressaltados pelos debatedores como componentes importantes para a melhoria de processos estratégicos de gestão, de modo que todo dado realmente importante gere alguma ação de melhoria. Ferramentas de Business Intelligence (BI) e outras metodologias de gestão de dados corporativos são aliados importantes.
Outro ponto abordado é a relevância da formação continuada, uma das metas do processo de acreditação. “O processo de educação é importante, pois não temos como substituir nossos funcionários por robôs, como faz a indústria automobilística”, ponderou Gastal. “A grande vantagem da acreditação como processo cultural é que ela funciona como um ‘esperanto’ organizacional, criando um idioma comum que facilita a comunicação entre os diferentes profissionais da instituição. Uma das questões mais críticas para segurança do paciente é justamente a comunicação.”
Fee for service
Uma das críticas colocadas por parte dos executivos foi o modelo de remuneração por serviços de saúde praticado pelas operadoras brasileiras, o pagamento por serviço (fee for service), que segundo Gastal “só se mantem no Brasil, embora até o SUS já o tenha superado”. Entre outros adjetivos, o sistema de compra de serviços de saúde no Brasil foi classificado como “perverso” e “um estímulo a não-qualidade”.
Segundo Gastal, entre 15% e 20% dos gastos de saúde do Brasil são custos administrativos que não agregam valor ao paciente. “Hoje o problema da saúde no Brasil é essencialmente de gestão. Não há alternativa, mas um conjunto de alternativas”, disse.
Palocci defendeu que a remuneração por serviços no Brasil seja um mix de modelos que busque independência do fee for service. “Precisamos mudar a lógica disso, dos 90% atuais para o fee for service para não mais de 10% ou 12%”.
Fonte: Saúde Web – 27/06/2013
 

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